Título: Guerra de orçamentos: acordo à vista
Autor: Sérgio GobettiIuri PittaColaborou: Jander Ramo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/12/2004, Metrópole, p. C5

A ameaça do PSDB de bloquear votações de interesse do governo federal se o PT criar dificuldades para o prefeito eleito de São Paulo, José Serra, já provocou mudanças no discurso de líderes dos dois partidos. No fim da tarde de ontem, tucanos reuniram-se com governistas em Brasília. Em São Paulo, cresceu na Câmara a possibilidade de garantir a Serra a margem de remanejamento do orçamento que o prefeito quer, de 15%, na votação do projeto, prevista para amanhã. "Acredito que chegaremos a um entendimento. Retomou-se o diálogo e se começou a pensar civilizadamente", disse, no Congresso, o deputado federal Alberto Goldman (PSDB-SP), referindo-se aos vereadores petistas. "Não podemos ter um tratamento em São Paulo diferente daquele que nós damos aqui", ressaltou o secretário-geral do PSDB, deputado Bismarck Maia (CE).

No fim da tarde, o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), e o relator do Orçamento da União de 2005, senador Romero Jucá (PMDB-RR), reuniram-se com Goldman para acertar os ponteiros. A intervenção do Planalto começou a se articular na sexta-feira, quando o presidente da Comissão de Orçamento, Paulo Bernardo (PT-SP), telefonou para o presidente do PT, José Genoino, e para o ministro da Casa Civil, José Dirceu, para advertir para os riscos de a crise paulistana atrasar a votação do orçamento.

Ontem, Bernardo manifestou-se a favor do pleito de Serra de poder remanejar livremente 15% das verbas. "Sou favorável, mas não podemos vincular uma coisa a outra", disse o petista, referindo-se ao orçamento de São Paulo e ao da União. "Estamos tentando achar uma fórmula para que fique no mesmo patamar."

Em São Paulo, as bancadas do PT e do PSDB na Câmara começaram a ter conversas mais amenas. Apesar de os petistas continuarem com o discurso a favor de 5% de índice de remanejamento, líderes das duas legendas travaram ontem diálogos bem menos ríspidos do que nos últimos dias.

O líder do governo na Casa, João Antônio (PT), explicou que o PT ainda está ao lado do Centrão, grupo autodeclarado independente que defende os 5%. Mas afirmou não há nada definido. João Antônio disse que não foi procurado, neste fim de semana, por nenhum líder nacional do partido. Ele mandou um recado mais duro - "não vamos ser marionetes na mão de ninguém" - antes de amenizar: "Estamos abertos ao diálogo e, se nos apresentarem argumentos políticos, podemos repensar."

Às voltas com problemas também na votação do orçamento estadual, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que vai intervir na briga entre PSDB e PT para tentar acalmar os ânimos dos parlamentares nas três esferas de poder. "Podemos ter três orçamentos com problemas e isto não é razoável", avaliou. "Vou sugerir um pouco de suco de maracujá para todos."