Título: Nome de Greenhalgh ainda não é consenso entre aliados
Autor: Christiane Samarco e Denise Madue¿o
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de apressar os acertos da reforma ministerial antes da eleição das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado. Os próprios líderes governistas admitem hoje que não dá para desvincular os dois assuntos porque aliados insatisfeitos com a escolha de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para disputar a presidência da Câmara usam a eleição para pressionar por melhores cargos no governo. O prazo que o governo tem para definir o quinhão de poder de cada partido aliado ficou mais curto por conta do Movimento Câmara Forte, que ameaça lançar candidato contra Greenhalgh. "Nosso candidato será lançado até o dia 17, no máximo", diz o deputado Jovair Arantes, presidente do PTB de Goiás, homem de confiança do ministro da Casa Civil, José Dirceu, um dos líderes dos rebeldes.

O movimento tem à frente deputados do PTB, PP, PL, da base governista. Segundo Jovair, no caso da sucessão da Mesa todo o grupo está disposto a não seguir a orientação partidária, com o argumento de que esta questão é parlamentar. O grupo programa para o dia 10 uma reunião em Brasília.

O governo tem que se empenhar para enfraquecer a candidatura alternativa dos rebeldes antes mesmo de seu lançamento. "Precisamos entender as verdadeiras razões por trás de cada objeção ao nome de Greenhalgh", pondera o deputado Paulo Bernardo (PT-SP), ao admitir que a motivação do grupo vai além das antipatias políticas e pessoais contra o petista. A pressa é prudente sobretudo para evitar o engajamento do PP. Afinal, o Planalto prometeu há dois meses um ministério para o líder do PP na Câmara, Pedro Henry (MT), mas não definiu a pasta nem oficializou a promessa.

O líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), é um dos articuladores da reunião e não esconde a necessidade de o governo começar a negociar com o partido para aprovar o nome de Greenhalgh. "O governo terá de trabalhar isto e deve saber como, já que lançou um nome que ninguém esperava", diz ele, ao antecipar que a posição de sua bancada será tomada em discussão com o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ).

Os aliados contavam com a escolha do líder do PT, Arlindo Chinaglia (SP), e trabalham, agora, para convencer o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) a disputar como candidato avulso. "Se o Virgílio não aceitar, temos várias alternativas, entre os quais o José Múcio e o Júlio Delgado (líder do PPS)", diz Jovair.

Interlocutores de Lula advertem, porém, que o governo deve intensificar as conversas e negociações nos próximos dias, mas com o cuidado de não oficializar os acertos reformando o ministério antes da eleição da Mesa, em fevereiro. Primeiro, porque escolhas de ministros sempre geram mágoas que podem alterar o placar de votação no Congresso.

Segundo, porque, de acordo com integrantes da cúpula do PT, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), tem que conduzir o processo sucessório até a eleição de 14 de fevereiro e ainda é cedo para descartar a possibilidade de ele ser indicado ministro.