Título: Bagaço de cana é alternativa
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2005, Economia, p. B7

Dendê, mamona, girassol, amendoim, palma e soja. As opções de oleaginosas para a extração do óleo base para a conversão em biodiesel são variadas, mas não são as únicas. Poucos sabem, mas um projeto brasileiro promete transformar bagaço de cana em biodiesel. O projeto da Raudi - indústria química com uma unidade industrial para produção de bicarbonato de sódio no Paraná -, em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), deve ser transformado em um complexo semi-industrial em dois anos. A tecnologia de gaseificação do bagaço (já patenteado) converte a biomassa em gás. A partir de uma síntese química, viabilizada por um catalisador cuja aquisição está em andamento, o gás é transformado em biodiesel, livre de enxofre - um sério problema ambiental do diesel fóssil - e com alta octanagem.

Segundo Ricardo Audi Filho, diretor da Raudi, os estudos de rendimento ainda não são conclusivos acerca do custo de cada litro de biodiesel em relação ao combustível convencional. "Isso vai depender muito dos catalisadores e da própria unidade industrial, mas a avaliação é que seja possível transformar isso num negócio economicamente viável", afirma. O rendimento estimado neste momento prevê a obtenção de uma tonelada de biodiesel para um volume entre cinco e seis toneladas de bagaço.

A disponibilidade de bagaço no Brasil não é desprezível. Uma parte hoje é utilizada para produção de vapor e energia excedente em usinas de açúcar e álcool. Segundo Audi, esta quantidade pode assegurar grandes volumes de biodiesel. Isso significa até 120 milhões de litros por ano.

O investimento estimado para um projeto dessas dimensões, afirma Audi, pode chegar a US$ 35 milhões, bem diferente de fábricas na Europa, que convertem gás natural em gás de síntese para posterior transformação em biodiesel. "A síntese química neste processo custa bilhões de dólares, enquanto a opção desenvolvida a partir do bagaço está na casa dos milhões de dólares", assegura.

Mas além de passar da fase experimental para semi-industrial, o processo em escala industrial de transformação do bagaço da cana em biodiesel dependerá também de um reconhecimento governamental para obter financiamentos capazes de sustentar a construção do projeto.