Título: METRÓPOLE O ESTADO DE S.PAULO Segunda-feira, 3 de Janeiro de 2005 'Não traí ninguém', diz Tripoli
Autor: Denise Madue¿oJoão Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2005, Metrópole, p. C3

Responsabilizado pela derrota de José Serra na Câmara Municipal, o presidente da Casa, Roberto Tripoli (PSDB), disse ontem que a história não é bem assim. "Nós iríamos perder ou ter de votar em Mário Dias, que foi vereador pelo PPB de Paulo Maluf", alegou. "Se eu fosse o candidato do partido, teria perto de 50 votos. Montaríamos uma chapa de consenso e estaria tudo em paz. Tenho adversários políticos, não inimigos." Pelo regimento da Casa, se houver empate em duas votações para a escolha do presidente, o critério de desempate é a idade. Dias, hoje do PTB e já integrante da base governista, tem 75 anos, é o mais velho da Casa e seria o plano B do governo. Até a véspera da votação, havia empate entre as candidaturas.

Chamado de traidor por alguns vereadores do PSDB após a votação, o presidente da Câmara respondeu: "Eu não traí ninguém nem os princípios do PSDB. Seria certo eu votar em Mário Dias, do PPB de Paulo Maluf?", questionou. "Não fui para disputar. O (Celso) Jatene me lançou, mas quem me 'convidou' para ser presidente foi o (Marcos) Zerbini."

Logo cedo, Tripoli foi à Câmara. Reconheceu que a nova função o deixou entusiasmado. Entre suas primeiras medidas estão investimentos em informatização e recursos humanos. "Quero ajudar o prefeito José Serra a fazer uma das melhores administrações que essa cidade já teve."

Para um tucano, que pede anonimato, isso seria um sinal de que Tripoli quer amenizar o impacto da eleição, principalmente com o prefeito, e evitar um rompimento traumático com o PSDB. O presidente da Câmara ainda não fala sobre seu destino partidário. Mas, para obter apoio do Centrão e do PT, Tripoli assinou um compromisso de deixar o PSDB.

Ontem, o presidente municipal do PSDB, o deputado estadual Edson Aparecido, disse que a atitude de Tripoli foi "condenada por todo o partido" e só aguarda uma solicitação da bancada para tomar as medidas previstas no regimento interno do partido. A executiva encaminha à Comissão de Ética um pedido de expulsão do membro. A comissão julga o pedido em processo, no qual o partidário tem direito de defesa assegurado. O trâmite leva de uma a duas semanas, diz Aparecido. "Tão logo chegue o pedido, será encaminhado às instâncias do partido."

Enquanto não há uma definição do destino partidário de Tripoli, o irmão do vereador, o deputado estadual Ricardo Tripoli (PSDB), acredita que o tempo dará a melhor solução para o episódio. "É preciso esperar os ânimos se acalmarem. Muito foi dito no calor da emoção e as palavras extrapolaram o valor do que realmente se pretendia expressar. A verdade é que são todos amigos e têm a mesma proposta política."

Segundo o deputado, o irmão se candidatou para ajudar Serra, que enfrentaria mais dificuldades se o escolhido fosse algum nome do Centrão ou do PT ou se a base governista escolhesse Mário Dias.

"Ele conseguiu apoio do pessoal que, em tese, seria da oposição. A eleição do Roberto deve ser vista como algo que dá tranqüilidade ao Serra, e não uma derrota", disse. "Melhor um presidente tucano que não tucano."