Título: Para analistas, moeda ainda vai cair muito mais
Autor: Paul Blustein
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2005, Economia, p. B6

Com o déficit comercial tão teimosamente alto, muitos economistas acham que o dólar ainda vai cair muito mais. A situação atual, alegam eles, não é sustentável, particularmente se as dívidas dos americanos continuarem se acumulando como uma porcentagem da economia do país. "Se continuarmos nessa marcha, atingiremos 100% do PIB - um território nunca visitado por nenhum outro grande país industrializado", disse Michael Mussa, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional e membro do Institute for International Economics. "A uma determinada altura, o jogo tem que acabar" - como países como o Brasil descobriram quando os estrangeiros em pânico começaram a tirar dinheiro do país.

O declínio de cerca de 16% do dólar americano em relação a outras grandes moedas, segundo uma regra prática adotada por muitos economistas, deve eventualmente provocar uma redução de um quarto no atual déficit comercial de US$ 600 bilhões. Num fórum recente patrocinado pelo instituto, um comitê de analistas concluiu que o dólar provavelmente terá de cair mais 15% para que o o déficit comercial seja estabilizado num nível que consideram razoável de cerca de US$ 300 bilhões ao ano - razoável porque nesse nível a dívida americana pararia de crescer em espiral como uma proporção do PIB.

Essa análise não é universalmente aceita. Autoridades do governo Bush, entre outras, afirmam confiantemente que os investidores estrangeiros continuarão a despejar dinheiro nos Estados Unidos porque seus fundamentos econômicos são sólidos. Mas outros consideram temerário descartar a probabilidade de que os estrangeiros, diante da inevitabilidade da queda do dólar, se livrem de seus títulos americanos num pânico auto-imposto.

"É muito fácil criar cenários nos quais a queda envolve uma crise", disse John Williamson, um outro economista do International Institute. A melhor forma de minimizar o risco de crise, argumentam Williamson e muitos outros economistas, é reduzir o déficit orçamentário americano, o que refrearia a demanda do consumidor e assim coibiria as importações de forma relativamente rápida.

E, mesmo se o declínio do dólar continuar suavemente, ainda assim privará os americanos de poder de compra que, do contrário, eles teriam disponível para adquirir produtos estrangeiros.

"A longo prazo, uma moeda mais fraca significa que os Estados Unidos e seus cidadãos estão mais pobres", disse Mussa. "Um dólar mais fraco é claramente necessário, mas isso não quer dizer que quanto mais fraco, melhor. É como chegar no nosso chefe e dizer: `Por favor, pague-me um salário mais baixo¿. Isso faz sentido se a outra alternativa for perder o seu emprego, mas não significa que quanto mais baixo, melhor".