Título: Serra espera o mesmo tratamento dado a Marta
Autor: Mariana CaetanoRibamar OliveiraColaborou: Silv
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2005, Nacional, p. A5

Baseado no compromisso pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que a administração do PSDB em São Paulo não sofreria retaliações na troca de comando, o prefeito José Serra e a direção do partido vão cobrar do presidente o mesmo tratamento dado à prefeita Marta Suplicy. Os tucanos querem, pelo menos, a tolerância de cerca de 20 dias usada pela Secretaria do Tesouro Nacional, no mês passado, antes de punir a gestão petista pelo atraso no pagamento de R$ 58 milhões da parcela de novembro. O episódio acabou de azedar a relação entre PSDB e PT. Serra sentiu-se mais uma vez traído pelos petistas, especialmente pelo governo federal. Traição ainda mais grave, apontam tucanos, do que a articulação dos vereadores do PT para eleger Roberto Trípoli presidente da Câmara Municipal.

Antes da posse, em conversas com o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, Serra teria recebido a garantia de que a prefeita não deixaria pendentes parcelas da dívida. A própria Marta Suplicy anunciou o pagamento de R$ 80 milhões dos R$ 105 milhões referentes a dezembro. A dívida não apenas ficou em aberto, mas a Secretaria do Tesouro Nacional teria reagido de imediato.

Agora, para dar conta da prestação, Serra pode ser obrigado a prejudicar o pagamento de fornecedores - que já estão recebendo com atraso desde o fim da gestão petista.

"Não temos nenhuma outra expectativa que não seja de um respeito mútuo nessas relações. Isso quer dizer que temos que ter o mesmo tratamento que foi dado a São Paulo pelo governo até agora, quando o governo dizia que era preciso respeitar São Paulo, porque era a maior cidade do País", afirmou o secretário-geral do PSDB, deputado federal Bismarck Maia. "Serra encontrou problemas, que estão sendo tratados sem alardes com a transparência devida. Não acredito que houvesse qualquer acordo dele com o governo para não denunciar nada em troca de favores. Não é a postura do Serra."

Serra esteve com Lula pouco antes do Natal. Dele, ouviu a promessa de que o governo federal trataria São Paulo "de acordo com o interesse público e não com enfoque de natureza partidária", nas palavras do prefeito.

Durante o encontro, Lula não prometeu solução para o problema da dívida da cidade, de R$ 30 bilhões. Esse valor equivale a quase 2,4 vezes a receita líquida do município, muito acima do limite previsto na Lei Fiscal, de 1,2. Esse porém, será novo cabo-de-guerra entre os dois partidos. A partir de maio, o governo federal poderá suspender transferências voluntárias se a Prefeitura não estiver adequada. Há interpretações diferentes da lei. Por enquanto, integrantes do PSDB acreditam na hipótese de o Senado ampliar o prazo para a adequação.