Título: Selo florestal melhora os negócios
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2005, Negócios, p. B14

Quando o então pecuarista e ex-cafeicultor Rubens Resstel comprou terras no vale do Rio Guaporé, no sul de Rondônia, deparou-se com a paisagem de matas nativas da região. Imbuído do modelo tradicional de desenvolvimento - de que o mato deve dar lugar à plantação -, ele iniciou a derrubada das árvores para substituí-las por pastagens e agricultura. Isso foi no começo dos anos 80. Mas logo Resstel percebeu que "havia algo esquisito" naquele modo de tratar a floresta e que poderia tirar dali uma fonte de renda. Por volta de 1989, contratou uma consultoria para fazer um projeto de manejo florestal, quando os recursos naturais são extraídos de modo sustentável. Tirou mogno e cerejeira da mata e fundou sua atual empresa, a Madevale - Madeireira Vale do Guaporé.

Em meados da década seguinte, era criado o Forest Stewardship Council (FSC), ou Conselho de Manejo Florestal, organização com sede em Bonn, na Alemanha, cujo objetivo é difundir as técnicas de manejo florestal para o mundo todo. Para isso, criou a certificação FSC. O chamado selo verde, afixado em produtos de procedência florestal.

Hoje o selo verde tornou-se um diferencial de mercado, que está impulsionando os negócios de empresas brasileiras de base florestal. A estimativa para 2005 é que os produtos com esse selo movimentem R$ 3 bilhões, de acordo com a Imaflora, organização não-governamental responsável pela emissão do certificado FSC no Brasil.

Hoje certificada, a Madevale deixou de extrair mogno e passou a explorar o potencial de espécies como jatobá, ipê e cumaru. "Meu patrimônio é a floresta. A serraria é só uma parte dele."

Segundo Resstel, o selo funciona como um diferencial para o mercado externo. É para países como Espanha, Bélgica e Indonésia que ele vende a maior parte da produção, ainda pequena - fechou 2004 com volume de 600 metros cúbicos de madeira, mas tem a expectativa de quadruplicar o volume este ano. "Sem a certificação, seria impossível chegar a esses mercados. O selo permite o acesso aos grandes compradores."

Para as comunidades localizadas em regiões extrativistas do Acre, a certificação abriu portas para compradores responsáveis da madeira nativa e permitiu uma maior organização das comunidades, que costumam obter a certificação em conjunto. Assim, o ganho vai além da garantia de que poderão contar com os recursos da floresta no futuro. "O negócio não é só a madeira, a castanha, o óleo. É a erradicação da pobreza e o fortalecimento dos povos da floresta", afirma Jefferson Amaro, coordenador do grupo de produtores florestais comunitários do Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA) do Acre.

O CTA foi criado há 23 anos para lutar contra a situação de semi-escravidão dos seringueiros e castanheiros do Acre e teve como principais lideranças Chico Mendes e a atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Atualmente coordena 11 comunidades extrativistas e atua diretamente na capacitação dos trabalhadores florestais, além de assessorar a comercialização da madeira certificada. "A mesma madeira que era vendida a R$ 250 o metro cúbico passou a ser vendida a R$ 900/m3 com a certificação", afirma Amaro. Os principais clientes dessa madeira, que é extraída em pequenos lotes de forma controlada, são marceneiros e designers das Regiões Sul e Sudeste.

No ano que passou, 43 famílias ligadas ao CTA obtiveram um rendimento familiar anual de R$ 3.600. "Não existe atividade que dê maior retorno financeiro às comunidades."