Título: Governo desiste de licitação dos caças
Autor: Roberto Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2005, Nacional, p. A7

O governo federal considera morta a concorrência FX, no valor de US$ 700 milhões, para compra de 12 caças de alta tecnologia, os substitutos dos velhos Mirages IIIE/BR em uso há 32 anos. Esses aviões serão desativados no fim do ano, à zero hora do dia 31 de dezembro. O Ministério da Defesa analisa a possibilidade de fazer uma escolha direta, fora da licitação. Esse processo pode envolver aeronaves novas ou usadas e revitalizadas. Temporariamente as missões de defesa aérea serão entregues aos F5-BR Tigre modernizados pela Embraer. Os primeiros 18, do lote completo de 46 unidades contratadas, serão entregues ao longo de 2005. Depois dos procedimentos de atualização o Tigre se transforma em avançado jato de ataque, com alguma capacidade de interceptação. Iniciada em 1995, renovada várias vezes, a FX chegou ao fim à meia-noite do dia 31 de dezembro de 2004, quando as propostas dos quatro últimos consórcios participantes e a oferta independente da RAC-MiG, com o caça russo MiG-29, perderam a validade sem que tivesse sido tomada nenhuma decisão.

SEM PRESSA

O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, acha que o fato de o processo ter caducado é favorável. "Agora acabou a pressa e a pressão", disse Alencar essa semana a um oficial do comando da Aeronáutica. O ministro acredita que o governo "poderá fazer um negócio melhor" se esperar um pouco mais e puder contemplar a aquisição de produtos da nova geração de supercaças que está chegando aos arsenais da Europa e dos EUA.

Não é tão simples. A começar pelo preço: a cotação estimada dos modernos Eurofighter, Rafale, F-35 e F-18S é de US$ 70 milhões. Ainda não há indicação de que esses equipamentos possam vir a ser exportados para nações de fora dos grandes pactos militares, como é o caso do Brasil.

A versão básica do F-18 Hornet, principal aeronave de ataque da Marinha americana, produzido pela Boeing, foi incluída na primeira fase da concorrência FX. Acabou desqualificado pelo preço elevado e complexidade de manutenção. O arranjo mais avançado custa o dobro. E é só um desenvolvimento do projeto inicial, apresentado em 1974.

A prescrição das ofertas favorece a opção por modelos usados aos quais seja possível agregar tecnologia de expansão da eficiência. O comando da Aeronáutica tem o oferecimento de 10 caças Kfir C-10, de Israel, por US$ 80 milhões a US$ 90 milhões pelo arrendamento por três anos. O Kfir é derivado do Mirage IIIE/Br. Uma minuta de aprovação foi divulgada em julho de 2002. O grupo Lockheed-Martin está propondo a versão A do F-16 Falcon. O lote abrange 18 supersônicos dos anos 80. O custo é de US$ 90 milhões e implica compra definitiva.