Título: Inflamações aumentam riscos para o coração
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2005, Vida &, p. A8

Debelar inflamações no corpo pode ser tão importante para combater uma doença cardíaca quanto reduzir o colesterol, de acordo com dois novos estudos que oferecem os primeiros indícios de que coibir a inflamação pode proteger o coração. As pesquisas mostraram que pacientes que tiveram a inflamação reduzida apresentaram menor probabilidade de que sua doença cardíaca piorasse ou de que morressem de um enfarte, mesmo se os níveis de colesterol já estivessem baixos. Durante anos, os médicos acharam que doenças das artérias coronárias ocorrem principalmente quando o colesterol alto provoca a formação de tecidos gordurosos - chamados de placas - dentro das artérias que levam o sangue para o coração. A teoria diz que as artérias vão gradualmente ficando mais estreitas e acabam obstruídas, freqüentemente por um coágulo sanguíneo, provocando um ataque cardíaco.

Mas, nos últimos anos, acumularam-se evidências de que a inflamação, geralmente uma reação benéfica do sistema imunológico para combater infecções e curar feridas, também tem papel importante nesse processo.

O excesso de inflamação - talvez pelo fato de as pessoas estarem acima do peso ou terem colesterol alto - pode danificar o revestimento das paredes arteriais e contribuir para a formação e a ruptura de placas.

Os resultados sugerem que os médicos devem monitorar rotineiramente a inflamação da mesma forma como testam o colesterol e tomam medidas para reduzir a inflamação em pacientes com altos níveis, especialmente naqueles que já correm um alto risco.

EXERCÍCIOS

Os mesmos passos para baixar o colesterol - uma dieta saudável, a prática de exercícios, perda de peso, o abandono do cigarro e a administração de drogas à base de estatina para baixar o colesterol - podem ajudar a reduzir inflamações. Além disso, os pesquisadores estão estudando novos medicamentos que podem ter por alvo específico a inflamação.

"Pela primeira vez, temos indícios clínicos fortes de que diminuir a inflamação reduz o risco de ataques do coração, derrames e doenças vasculares", disse Paul M. Ridker, cardiologista do Brigham and Women's Hospital de Boston, que comandou um dos estudos publicados ontem no New England Journal of Medicine. "O benefício é pelo menos da mesma proporção que o da redução do colesterol. Esta é uma mudança radical no nosso pensamento sobre prevenção de doenças cardíacas."

ANTIINFLAMATÓRIOS

Se de um lado estudos mostram que coibir a inflamação pode proteger o coração, outros quatro trabalhos realizados no ano passado com antiinflamatórios revelaram que o próprio medicamento que serve para combater a inflamação pode fazer mal ao coração.

Um deles, o Vioxx, da Merck, chegou a ser retirado do mercado pelo próprio laboratório. Os outros a darem problema são: Celebra e Bextra, da Pfizer, e o Flanax, da Bayer.