Título: Confiança do consumidor é recorde
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2005, Economia, p. B3

Os consumidores brasileiros terminaram 2004 batendo recordes de confiança na economia do País. Pesquisa divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que o porcentual de entrevistados que consideravam a situação econômica boa em dezembro chegou a 11,7%, o melhor resultado da série histórica iniciada em outubro de 2002. O porcentual dos que avaliavam a situação como ruim (39,6%) foi o mais baixo de toda a série. Responsável pela Sondagem de Expectativas do Consumidor, o economista Aloisio Campelo disse que os resultados da pesquisa respondem ao avanço da economia em 2004, com melhoria do emprego, da renda e das perspectivas para o País. Os dados de dezembro mostraram a retomada da confiança após dois meses de queda e revelam que, apesar do otimismo, há cautela em relação ao emprego e à inflação.

A pesquisa mostra também que, comparativamente, a parcela dos que consideravam a situação econômica melhor do que há seis meses aumentou de 15,9% em novembro para 20,7% em dezembro. As manifestações de otimismo ocorreram em meio a um quadro de melhoria das finanças das famílias.

A Fundação Getúlio Vargas divulgou que o porcentual de famílias que responderam estar com as finanças equilibradas também subiu, para 61,3% em dezembro (o melhor porcentual da série histórica), ante 59,6% em novembro.

COMPRAS

O otimismo e a redução do endividamento não serão suficientes, entretanto, para estimular as compras de produtos como eletrodomésticos e automóveis. O porcentual de entrevistados que responderam que os gastos com bens de alto valor serão maiores nos seis meses seguintes do que foram nos seis meses anteriores atingiu 13,6% em dezembro, inferior aos 15,5% de novembro e o menor desde julho de 2003 (13%).

Já o porcentual dos consumidores que responderam que os gastos serão menores subiu para 54,6% em dezembro, ante 53,6% em novembro, o maior porcentual desde abril de 2004 (54,9%). Campelo disse que a FGV explica aos entrevistados que considera bens de alto valor aquisições como eletroeletrônicos, automóveis e imóveis.

Segundo ele, não há uma explicação clara fornecida pelos dados da pesquisa sobre qual seria o motivo de menos consumidores planejarem a compra de bens desse porte.

Para Campelo, a explicação pode estar no fato de que houve "um avanço muito grande" na compra desses bens em 2004 e "boa parte da população já adquiriu algum bem". Ele disse também que "não está descartada" a hipótese de que a alta nas taxas de juros esteja relacionada a essa decisão dos consumidores, mas também ressaltou que isso não está claro na pesquisa.

Outra justificativa pode estar na cautela manifestada pelos consumidores em relação a temas com inflação e emprego, apesar do otimismo em relação ao primeiro semestre de 2005. Segundo a pesquisa, 46,4% dos consumidores esperam que a situação econômica do País estará melhor nos próximos seis meses, porcentual superior ao de novembro (43,3%). O porcentual dos que imaginam que a economia estará pior caiu de novembro (12,4%) para dezembro (10,4%).

Mas Campelo observou que, apesar do otimismo, o emprego e a inflação são preocupações manifestadas pelos consumidores. Segundo ele, os diversos ciclos da economia brasileira, com fases curtas de crescimento seguidas de nova retração ou estagnação nos últimos 20 anos, acabam levando a essa cautela. No caso do emprego, por exemplo, o porcentual dos que esperam que será mais fácil encontrar trabalho nos próximos seis meses caiu de 14,4% em novembro para 14,2% em dezembro. A expectativa em relação à inflação em 2005 também permaneceu idêntica em dezembro em relação a novembro, em 10,5%.