Título: Tarifa foi metade da inflação da Fipe
Autor: Márcia De Chiara e Ricardo Leopoldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2005, Econommia, p. B4

O governo foi responsável por quase a metade da inflação ao consumidor em 2004. O Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) acumulou alta de 6,56% de janeiro a dezembro do ano passado e, desse total, 44,5% ou 2,9 pontos porcentuais se referem à subida dos preços administrados ou monitorados. Se fosse descontada a inflação desses itens, o custo de vida teria sido bem menor, de 3,6%. A constatação é do coordenador do IPC-Fipe, Paulo Picchetti. O economista analisou 16 itens que têm seus preços gerenciados pelo governo, de um total de 525 itens do IPC-Fipe, e chegou a essa conclusão. Entre os que mais pressionaram a inflação em 2004 estão a gasolina, que subiu 15,51% e foi responsável por 0,41 ponto porcentual; os contratos de assistência médica, com alta de 13,1% e pressão de 0,41 ponto no índice; e gastos com educação, que aumentaram 10,59% e responderam por 0,40 ponto porcentual do IPC-Fipe. Despesas com luz, água/esgoto e telefone fixo e móvel integram a lista dos vilões da inflação.

O aposentado Norival Garcia, de 56 anos, sentiu no bolso o peso das tarifas no ano passado. Com uma família de 4 pessoas, ele conta que gasta cerca de 30% da renda com despesas compulsórias de água, luz, telefone, gasolina e planos de saúde. Para conseguir equilibrar as finanças da casa, ele cortou gastos com alimentos supérfluos e passou a pesquisar preços da gasolina na hora de abastecer o carro.

"A história da inflação em 2004 é a mesma dos 10 anos do Plano Real, com forte pressão das tarifas públicas", diz Picchetti. Ele observa que isso é um resquício de indexação. Para o economista, o que está acontecendo é uma distorção de preços relativos com as tarifas públicas reajustadas pelos IGPs numa proporção bem maior do que os demais preços, sem que haja contrapartida para outros setores.

"Pelo sistemática atual, o telefone sobe porque a soja sobe", exemplifica. Isso ocorre por Índice de Preços por Atacado (IPA) responde por 60% do IGPs, índice usado para reajustar as tarifas públicas e tem grande influência dos preços das commodities.

DEZEMBRO

No mês passado, o IPC-Fipe voltou a subir em relação a novembro e fechou em 0,67%, superando a previsão inicial, de 0,60%. Picchetti observa que a elevação do preço da gasolina (5,06%), do cigarro (3,48%) e de pacotes de viagens (9,53%) puxou para cima o índice.

Apesar dessa elevação, pelo segundo ano consecutivo o IPC-Fipe fechou 2004 desacelerando em relação ao período imediatamente anterior. O recuo foi 1,6 ponto porcentual. "Não há dúvida de que a estabilização dos preços foi conquistada e ela é preciosa", diz o economista. Para 2005, ele prevê inflação ainda menor, entre 5,5% e 5%, com a perspectiva de que os choques de oferta desencadeados pela alta das commodities, como petróleo, aço e soja, não se repitam.

Para este mês, ele prevê que o IPC fique em 0,60%, partindo de um piso de 0,35 ponto porcentual devido a reajustes de telefone, energia, gastos com viagens, educação e licenciamento de veículos. "Mas esse patamar não será a regra para o restante do ano", ressalta o coordenador.

O Índice de Custo de Vida (ICV) do Dieese fechou dezembro com inflação de 0,54%, ante 0,83% em novembro. No acumulado de 2004, o ICV subiu 7,70%, ante 9,56% em 2003. O resultado de 2004 foi muito influenciado pelas elevações dos preços dos combustíveis, planos de saúde e de tarifas, entre elas luz e telefone. "Para 2005, a expectativa é que o índice fique em 5,5%", prevê a coordenadora do índice, Cornélia Nogueira Porto.