Título: Manufaturados perderão força na balança comercial
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2005, Economia, p. B6

Os produtos manufaturados devem perder força na balança comercial brasileira em 2005, na opinião de economistas. No ano passado, eles foram o principal combustível das exportações brasileiras. Sua participação na pauta de exportação subiu de 54,3% para 54,9%. O volume exportado cresceu 22,6%, superando os básicos (13,7%) e os semimanufaturados (8,6%) em quantidades vendidas. Em 2005, porém, está prevista uma desaceleração do crescimento na América Latina e Estados Unidos, principais mercados compradores de industrializados do Brasil. "Este ano, o crescimento na América Latina deve ter uma redução, de 5,9% para 3,9%, o que vai afetar o desempenho das exportações de manufaturados", diz Júlio Callegari, economista do JP Morgan. Segundo previsões do banco, a receita de exportação de manufaturados vai crescer 12% neste ano, diante dos 32% de 2004. O principal motivo é a redução do espetacular crescimento de alguns países da América Latina e dos EUA. Em 2004, a Argentina cresceu 8% e a Venezuela, 17,5%, uma recuperação excepcional dos vários anos de crise. Em 2005, o ritmo deve cair para 5% na Argentina e 3,8% na Venezuela. Já os Estados Unidos devem reduzir seu crescimento do PIB de 4,4% para 3,7%, com a contínua elevação dos juros.

Outro fator que vai pesar é a capacidade ociosa. Em 2004, mesmo com a demanda doméstica aquecida, fabricantes de máquinas, tratores e automóveis não tiveram grandes problemas para exportar, porque tinham bastante capacidade ociosa. "Em 2005, o contexto é diferente: ainda há capacidade ociosa para crescimento, mas a situação não é tão folgada", diz Callegari.

Segundo dados da Tendências Consultoria Integrada, os países da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) contribuíram com cerca de 55,8% do crescimento de US$ 8,9 bilhões no saldo comercial do ano passado. Para Fábio Silveira, sócio-diretor da MS Consult, o desempenho da América Latina será determinante para as vendas de produtos brasileiros de maior valor agregado. No ano passado, os aviões e outros materiais de transportes (automóveis, tratores) puxaram as vendas de manufaturados. Esses produtos se beneficiaram do bom cenário da economia mundial e, no caso dos aviões, da inserção internacional da Embraer.