Título: Novo cargo de Zoellick será bom para Brasil
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2005, Economia, p. B6

A nomeação do representante comercial dos Estados Unidos, Robert Zoellick, para vice-secretário de Estado, se confirmada, terá implicações positivas para as relações comerciais entre brasileiros e americanos. Como principal interlocutor do governo Bush com a América Latina, desde os tempos da campanha eleitoral de 2000, Zoellick acabou estabelecendo um diálogo substantivo com o chanceler brasileiro Celso Amorim. A trombada que deram na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Cancún, em 2003, quando Zoellick escreveu artigo no Financial Times responsabilizando o Brasil pelo fracasso do encontro, foi superado e parece ter servido para o amadurecimento da relação pessoal entre Zoellick e Amorim.

Presume-se que uma de suas áreas de interesse no novo posto será a América Latina. Zoellick é um homem que vê o mundo na sua complexidade e poderá ter um impacto importante também na busca de uma atuação diplomática menos uniteralista do que a que os EUA trilharam até agora. E isso também será bem-visto em Brasília.

Se, por um lado, representa uma oportunidade de ampliação do diálogo bilateral com o Brasil, a nomeaçao de Zoellick para número 2 do Departamento de Estado apresenta um desafio para a ala antiamericana do Itamaraty, comandada pelo secretário-executivo, Samuel Pinheiro Guimarães, que será o interlocutor oficial de Zoellick. Os EUA poderão, por exemplo, usar o esquema de consulta semestral introduzido pelos governos Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton, em 1999, para institucionalizar a relação entre os dois países, para elevar o nível do diálogo.

Sob o esquema de consulta, o lado americano é sempre representado pelo subsecretário para assuntos políticos. Dado o conhecimento de Zoellick sobre o Brasil e a disposição cada vez mais evidente do governo Bush de reconhecer e estimular a liderança regional do País na região, uma possibilidade é que ele chame as consultas semestrais para o seu nível, caso em que teria o antiamericano Guimarães do outro lado da mesa.

A saída de Zoellick da representação comercial pode, porém, representar um problema para os interesses do Brasil na área do comércio se sinalizar um cálculo, do próprio Zoellick, que as negociações internacionais, na OMC ou na Área de Livre Comércio das América (Alca), não vão adiante. Essa dúvida será esclareceida pela qualidade do sucessor.

Uma opção pelo atual subsecretário internacional do Departamento de Comércio, Grant Aldonas, será bem-recebida pelos que apostam num aprofundamento das negociações.