Título: Lula monta o quebra-cabeça de sua segunda reforma ministerial
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2005, nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma amanhã a consulta aos partidos para a sua segunda reforma ministerial, que pretende concluir até o fim do mês. Ele então viaja para Porto Alegre, onde participará do Fórum Social Mundial, e para Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial. Os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, que estavam em férias, retornam ao trabalho amanhã e participarão das reuniões de consulta e de montagem do quebra-cabeça ministerial com Lula. De acordo com auxiliares do presidente, Lula considera resolvida a eleição das presidências da Câmara e do Senado.

Na Câmara, o candidato oficial é o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que por enquanto enfrenta uma dissidência dentro do PT, por parte de Virgílio Guimarães (MG). O presidente acha que essa resistência será rompida. Especula-se que ele poderia chamar Virgílio para um ministério, para compensá-lo pela perda da presidência da Câmara.

No Senado, o candidato a presidente é Renan Calheiros (PMDB-AL), que em dezembro prestou um grande serviço ao governo e ajudou a desmantelar uma convenção de seu partido, convocada para votar a favor do caminho da oposição.

A senadora Roseana Sarney (PFL-MA) será ministra. No entanto, terá antes de deixar o PFL, exigência feita pelo partido e com a qual já se comprometeu.

Numa reunião na quarta-feira com a direção do PTB, o presidente Lula consultou o deputado Roberto Jefferson (RJ), presidente do partido, sobre o que ele achava do remanejamento do petebista Walfrido Mares Guias do Ministério do Turismo para o Planejamento, o que abriria a vaga para a senadora Roseana, interessada na pasta.

"Deus me livre, presidente. O Ministério do Planejamento é um ministério excomungado. Só serve para dizer não. Tem de ser entregue a um burocrata que queira depois ir para o Banco Mundial. Além do mais, é um apêndice da Fazenda. O Turismo é pequeno, mas tem mobilidade e projetos interessantes", respondeu.

"Fico com ele. Não quero nenhum outro ministério, até porque ministério não é uma coisa boa para o partido. É uma cunha do governo dentro do partido, não o contrário", completou. Jefferson prefere as diretorias de estatais.

Com a recusa do PTB de abrir o Turismo para Roseana, fala-se agora muito que a senadora - filha do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) - poderá ocupar o Ministério das Comunicações, no lugar de Eunício Oliveira, que iria para o Ministério das Cidades numa possível demissão de Olívio Dutra, do PT. Ou então que Roseana ficaria nas Cidades, enquanto Eunício Oliveira ocuparia a Integração Nacional.

Isso, se o titular Ciro Gomes aceitar a oferta para se transferir para o Ministério da Previdência, no lugar de Amir Lando, de quem o presidente Lula tem queixas quanto à forma de atuar.

A partir desta segunda-feira o presidente Lula deverá ter reunião com o senador José Sarney e com Renan Calheiros para fechar os cargos do PMDB. Lula tem uma dívida grande com os dois, responsáveis por manter o partido na sua base de apoio.

Um terceiro ministério para o PMDB é uma possibilidade remota, mas não impossível. Poderia ser entregue, por exemplo, ao senador Maguito Vilela (GO). Ele tem interesse nos Esportes, hoje com Agnelo Queiroz, do PC do B. Agnelo já esteve numa situação ruim. Hoje Lula não quer mais afastá-lo do governo.

Quanto ao rejeitado Planejamento, que foi chefiado por Guido Mantega até novembro, antes de ir para o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e agora é comandado interinamente por Nelson Machado, poderá ser entregue ao deputado Jorge Bittar (PT-RJ). Assim, o Rio passaria a ter um nome no primeiro escalão.

No final do ano, Lula chamou ao Palácio do Planalto o ex-deputado petista Vladimir Palmeira. Pretendia consultá-lo sobre as questões referentes ao Rio. Palmeira agradeceu a gentileza, disse que não gostaria de se envolver, mas ficaria imensamente grato se Lula apoiasse a sua candidatura a governador do Estado em 2006.

Sem saída, Lula se comprometeu a dar o apoio que o companheiro de partido solicitou à sua candidatura.

PETISTAS

No dia 30 de dezembro, ao receber um grupo de petistas logo depois de sancionar a lei que criou as parcerias público-privadas (PPPs), o presidente Lula foi questionado sobre a reforma ministerial. "Vamos deixar as coisas como estão, porque elas se resolvem, vocês vão ver", respondeu o presidente.

Antes, num encontro com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), Lula quis saber quem ele colocaria no ministério, caso fosse presidente. Mercadante se animou, fez considerações gerais, disse que um ficava bem aqui, outro ali, e Lula escutou. Ao deixar o Planalto e se encontrar com um assessor, Mercadante comentou: "Gozado, o presidente pede um palpite, a gente fala, fala, ele ouve, ouve, e depois fica quieto."