Título: Roseana já é ministra, falta só escolher a pasta
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2005, Nacional, p. A4

A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, convidou pessoalmente a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) para que ela faça parte da nova equipe ministerial a ser anunciada no fim de janeiro. A conversa de Dirceu com Roseana ocorreu numa visita discreta do ministro à casa da senadora, no bairro do Lago Sul, área nobre de Brasília, no mês passado. Lula ainda fará o convite oficial a Roseana pessoalmente, nas próximas semanas. Mas a senadora já decidiu que dirá sim ao chamado para entrar no governo petista. Quando aceitar o convite, Roseana já não estará mais no PFL, partido que integra o bloco de oposição. Ela já avisou ao presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), de que se desligará da legenda para assumir o posto.

"Na situação em que estou no Maranhão, se este convite for feito, eu não tenho como recusar", disse a senadora a Bornhausen, na ocasião, ao lembrar que está em guerra aberta com o governador do Estado, José Reinaldo Tavares (PTB). Roseana acusa o governador de atuar com o firme propósito de destruir sua carreira política. E, de fato, a rixa entre os dois ultrapassou os limites do Maranhão, reforçando o desejo de Roseana de integrar o ministério.

Na conversa com Roseana - a primeira de uma série - Dirceu disse que o presidente gostaria de levar para o governo a experiência administrativa de oito anos da senadora à frente do governo do Maranhão e também ampliar ainda mais a já estreita relação política com o clã Sarney, representado pela senadora e por seu pai, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Mais: Dirceu disse ainda à senadora que sua entrada no governo servirá para ajudar o projeto político nacional do PT de ampliar sua força no Nordeste, em especial no Maranhão, onde o partido nunca chegou perto de conquistar o governo local. Além disso, esse movimento também garantiria a criação de mais um palanque forte para a campanha da reeleição do presidente Lula no Nordeste, especialmente no Maranhão, onde o PT é inexpressivo.

Nessa primeira conversa do ministro Dirceu com Roseana sobre ministério, foi levantada a hipótese de ela assumir a pasta do Planejamento. A senadora, que começou sua carreira no setor público como técnica do Instituto de Pesquisas Econômico Aplicadas (IPEA), atribuiu a esta passagem a lembrança de seu nome para a área de Orçamento.

Mas, em conversa com José Sarney, ela ouviu uma ponderação em contrário. Com a experiência de ex-presidente da República, Sarney advertiu que Planejamento é "o ministério do não" e, para seu projeto de voltar ao governo do Estado daqui a dois anos, o melhor seria assumir um posto em que pudesse dizer sim ao Brasil e ao Maranhão. Por conta disso, pode ficar com o Ministério do Turismo, Cidades ou Comunicações, dependendo dos arranjos políticos que estão sendo costurados por Lula.

Antes de Dirceu receber o sinal verde para procurar Roseana, uma sondagem foi feita em novembro pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que também trabalha para fortalecer a frágil base governista na Casa, fazendo uma composição suprapartidária.

Com maioria precária entre os senadores, Mercadante e os outros líderes petistas acham que a entrada de Roseana no governo poderá facilitar a relação política com o PFL e com outros grupos de oposição dentro do Senado.

MARANHÃO

A entrada de Roseana no governo acontecerá no momento em que ela enfrenta uma dura guerra política regional com o governador José Reinaldo Tavares. Na sexta-feira, José Reinaldo convocou uma coletiva à imprensa em Brasília e, a pretexto de se defender de acusações de destinar verbas para obras fantasmas em seu Estado, fez campanha contra a nomeação de Roseana para o primeiro escalão federal.

Ele disse que é vítima de uma campanha difamatória, comandada pelo "império de comunicação" da família Sarney e contra-atacou, relembrando denúncias antigas feitas contra Roseana. Falou até de "um armário repleto de esqueletos estaduais" que seriam federalizados se a senadora for nomeada ministra, como o caso Lunus (empresa de sua propriedade e de seu marido Jorge Murad, onde a Polícia Federal encontrou um cofre com R$ 1,3 milhão cuja origem não foi esclarecida).

Apesar do episódio, que desgastou Roseana a ponto de forçá-la a renunciar à candidatura presidencial, em 2002, o presidente Lula não dispensou seu apoio. Ao contrário, ela, que já havia votado no petista contra Fernando Collor em 1989, foi elevada à condição de grande eleitora em 2002, estrelando um dos comerciais do PT no programa eleitoral gratuito de televisão. Ao som do jingle da campanha petista, Roseana declarou seu voto "de coração", cerrando sua mão direita e levando ao peito, com um sorriso.