Título: À sombra de Arafat, sucessor busca o próprio caminho
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2005, Internacional, p. A16

Em quase todas as paradas da campanha, o favorito na corrida presidencial palestina, Mahmud Abbas , diz que vai seguir os passos de Yasser Arafat. Mas, antes mesmo da eleição de hoje, que ele deve vencer com facilidade, Abbas mostrou disposição para estebelecer o próprio caminho e ir para direções que Arafat não tinha condições ou não estava disposto a ir. Logo depois da morte de Arafat em 11 de novembro, Abbas costurou as relações palestinas com visitas ao Líbano, Síria e Kuwait, todos lugares onde Arafat era persona non grata havia anos. Durante as duas últimas semanas, Abbas apareceu nas cidades palestinas e campos de refugiados mais militantes e disse aos atiradores que os ataques contra Israel são contraprodutivos e não devem fazer parte da intifada palestina.

"Nós apoiamos a intifada, mas somos contra o uso de armas na intifada", disse Abbas em um discurso na quinta-feira para milhares de estudantes da Universidade de An-Najah, em Nablus, a maior cidade da Cisjordânia e um reduto da militância. Arafat nunca declarou isso durante os quatro últimos anos de conflitos, embora condenasse os ataques suicidas depois que ocorriam. Israel apontava as declarações como falsas e acusava-o de encorajar a violência.

E sem passar um único dia no gabinete, Abbas elevou as expectativas de que um diálogo israelense e palestino pode ser retomado. Em compensação, uma grande maioria de israelenses aceitou a posição do primeiro-ministro Ariel Sharon de que negociações com Arafat serviriam de muito pouco. "Sharon é um líder eleito e vamos negociar com ele", disse Abbas, recentemente, em uma entrevista coletiva em Nablus. "Não posso dizer que Ariel Sharon não seja um parceiro. Mas se é ou não sério, vamos tentar saber." Abbas falou apenas dois dias depois de se referir a Israel como "inimigo sionista", um comentário que atraiu fortes críticas de líderes israelenses.