Título: Lula quer vender PPPs em Davos
Autor: Tânia MonteiroAdriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca em Davos, na Suíça, no fim deste mês - onde participará do Fórum Econômico Mundial - determinado a atrair recursos para as parcerias público-privadas. O projeto das PPPs, aprovado no fim do ano passado, é considerado pelo governo como um dos mais importantes para dar suporte ao crescimento nos próximos anos, principalmente na melhoria da infra-estrutura. "Agora, com o projeto das PPPs na mão, o presidente vai reforçar a corrente de investimentos em direção ao Brasil, como já havia feito nos meses de fevereiro e setembro, em Genebra e em Nova York", comentou o assessor internacional do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia.

Lula também decidiu comparecer, no dia 27, ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, tradicional espaço de forças políticas de esquerda e de movimentos sociais que se alinham entre as bases do PT. Mas a necessidade de atrair investimentos acabou tornando Davos estrategicamente mais importante do que o evento na capital gaúcha.

Enquanto em Davos Lula terá em mãos os bons números da economia para apresentar aos investidores, em Porto Alegre ele pode enfrentar novamente protestos contra a política econômica do seu governo e cobranças pelos poucos resultados alcançados na área social.

Garcia não teme, no entanto, a possibilidade de ocorrerem manifestações contra Lula no Sul, a exemplo do que já aconteceu em outros encontros de movimentos sociais - nos quais o presidente do PT, José Genoino, e a ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, foram hostilizados.

"Nunca houve um governo tão identificado e próximo dos movimentos sociais como o do presidente Lula", disse Garcia. Segundo ele, se houver protestos, eles serão "normais e democráticos".

AGENDAS ANTAGÔNICAS

Para o professor da Universidade de Brasília (UNB) e cientista político Paulo Kramer, da Kramer & Ornelas Consultoria, "quanto mais sucesso Lula fizer em Davos, mais críticas sofrerá em Porto Alegre". Ele acha isso natural, pois "as agendas dos dois fóruns são antagônicas". O Fórum Social nasceu como uma contestação a Davos.

"É uma perda de tempo o presidente ir a Porto Alegre", opina o professor. Ele ressalta que Lula "tem o sonho de ser uma liderança mundial, capaz de fazer uma ponte entre ricos e pobres".

Um sinal de que Lula está hoje mais próximo de Davos é o destaque que o Fórum Econômico Mundial deu ao presidente brasileiro - a foto e uma mensagem do presidente aparecem na página de abertura do site da organização na internet.

"Nunca perdi de vista o objetivo do mandato que recebi do povo brasileiro: usar a força da nossa sociedade para voltar ao caminho do crescimento sustentável, crescimento que gera empregos, distribui renda e promove integração social", diz a mensagem de Lula.

O tema do encontro na cidade suíça - "assumindo responsabilidades pelas escolhas difíceis" - coincide com a realidade que o presidente teve de enfrentar nos dois primeiros anos de governo, quando, além de manter as diretrizes da política econômica do governo FHC, ainda aumentou o ajuste fiscal.

Já o site do Fórum Social praticamente ignora a confirmação de presença de Lula, preferindo dar destaque ao comparecimento do teólogo Frei Leonardo Boff e do escritor José Saramago. A confirmação da presença do presidente só é encontrada em último parágrafo de uma nota a respeito dos participantes do encontro.