Título: Greenhalgh intensifica campanha
Autor: Ana Paula ScinoccaColaborou: Flávio Leonel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2005, Nacional, p. A6

Sem conseguir esvaziar a candidatura avulsa do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) à presidência da Câmara dos Deputados, a bancada petista dá início hoje à campanha do seu candidato oficial, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), com uma reunião de coordenação em que deve ser definida uma estratégia para buscar apoio nos Estados. Até o fim de janeiro, aliados da candidatura de Greenhalgh devem percorrer o País para tentar vencer as resistências das lideranças regionais ao nome preferido pelo Palácio do Planalto. O deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP), um dos principais articuladores da campanha de Greenhalgh, admite que a indicação do jurista paulista, ligado à defesa dos movimentos sociais e dos direitos humanos, encontrou resistência entre os petistas. Mas, segundo ele, elas foram apenas pontuais.

Na avaliação de Cardozo, Greenhalgh deverá enfrentar a maior dificuldade junto à bancada ruralista, que tem forte atuação no Congresso. Por isso, já está sendo desenvolvida uma articulação específica, de olho nos votos dos parlamentares ligados à produção agrícola.

Para enfrentar o obstáculo, já foi definida a formação de uma frente de deputados integrada por nomes como o de Walter Pinheiro (BA), Sigmaringa Seixas (DF) e Paulo Pimenta (RS).

Os deputados que participarem da reunião hoje devem dividir-se de acordo com as regiões do País para buscar os votos. "Já nos primeiros contatos, as resistências começam a ser vencidas. E ainda nem começamos a campanha", comenta Cardozo, sem querer nominar os deputados do PMDB, PL, PTB e PPS que teriam mudado de opinião. "Temos explicado, principalmente à bancada ruralista, que Greenhalgh saberá cumprir o papel de pluralidade que representa a presidência da Câmara", afirma o deputado.

VIRGÍLIO

O candidato dissidente do PT, Virgílio Guimarães, porém, não dá mostras de que vai abrir mão da disputa. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou arrancar de Virgílio o compromisso de apoio à candidatura de Greenhalgh, mas o deputado mineiro manteve sua posição.

Virgílio defende a legitimidade da sua postulação ao cargo. Ele destaca que a tese da candidatura avulsa é do próprio PT. "O partido tem algumas decisões tomadas: uma é que o candidato da bancada é Greenhalgh e a outra é que a candidatura avulsa deve ser respeitada", argumenta o parlamentar.

"O PT sempre defendeu a candidatura avulsa e não me passa pela cabeça que isso só foi proposto para azucrinar as candidaturas anteriores", afirma. "Como pode ser legítimo para os candidatos dos outros partidos e não para o PT?", questiona.

Para Virgílio, a legitimidade é maior na medida em que, qualquer que seja o eleito, pertencerá ao PT. Ele observa que a legenda é a que tem maior representatividade no Legislativo federal, outro princípio adotado na eleição da Mesa Diretora da Casa.

ALTERNATIVA

O deputado do PT de Minas Gerais nega que esteja reivindicando qualquer cargo alternativo para abrir mão da disputa pela presidência da Câmara. "Independentemente do desfecho, não me coloco mais para nada", afirma. "Mas a decisão por uma candidatura avulsa é minha e ela é individual, legítima e aprovada pelo meu partido", reitera.

Cardozo contesta Virgílio. Na avaliação do deputado do PT de São Paulo, a decisão da bancada é tática, e não de princípios por uma candidatura única. "O princípio a ser respeitado é apenas o da proporcionalidade", rechaça. "Tenho certeza de que ele não vai manter sua candidatura avulsa desafiando o partido, já que tal atitude traz problemas não apenas ao PT, mas também ao governo", argumenta Cardozo.