Título: Temer diz que não será mais candidato
Autor: Ana Paula ScinoccaColaborou: Flávio Leonel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2005, Nacional, p. A6

O presidente nacional do PMDB, Michel Temer, descartou ontem disputar a presidência da Câmara, durante encontro com o candidato do PT ao posto, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Em conversa de quase duas horas na residência do peemedebista, no Alto de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, Temer disse a Greenhalgh que o PMDB pode vir a institucionalizar seu apoio ao petista, mas antes seu partido vai esperar o PT resolver seus problemas internos. Greenhalgh é o candidato oficial do PT, mas outro petista pleiteia presidir a Câmara, o deputado Virgílio Guimarães (MG).

Temer disse também a Greenhalgh que o maior empecilho para um acordo com o PT é Anthony Garotinho, ex-governador e atual secretário de Governo e Coordenação do Rio de Janeiro. Isto porque ele e a mulher, a governadora Rosinha Garotinho, estão contrariados com as dificuldades impostas pelo governo federal para autorizar uma negociação de seu Estado com o Banco Itaú.

Na sexta-feira, em reunião do PMDB na capital paulista, Garotinho avisou que "não há hipótese" de a bancada peemedebista do Rio votar em Greenhalgh diante da posição "arrogante" com que o governo Lula tem tratado o governo de seu Estado. Nas contas de Garotinho, pelo menos 10 dos 13 deputados federais do Estado filiados ao PMDB não vão votar em Greenhalgh por recomendação expressa dele.

NEGOCIAÇÃO

Diante do relato feito por Temer, Greenhalgh se comprometeu a tentar intervir junto ao governo para solucionar o impasse e, desta maneira, conseguir os votos dos parlamentares do PMDB do Rio. "Vamos trabalhar nisso", teria prometido o candidato do PT à presidência da Câmara a Temer.

Depois do encontro, Greenhalgh destacou que precisa ter uma relação "mais amiúde" com o PMDB. "Vim aqui pedir o apoio de voto, mas pedi também a aproximação do presidente do PMDB à minha indicação à presidência da Câmara", disse o petista ao sair da casa de Michel Temer.

O presidente do PMDB elogiou Greenhalgh, demonstrando ser simpático ao fato de o petista assumir o comando da Câmara. O peemedebista, no entanto, ressaltou a decisão de seu partido de se afastar do governo Lula - o resultado da convenção que aprovou afastamento do PMDB da gestão federal do PT está sendo contestado na Justiça -, tornando-se mais independente e, desta maneira, mais próximo de lançar candidatura própria nas eleições do ano que vem.

"Minha posição, tendo em vista a decisão majoritária expressada na Convenção Nacional (realizada em dezembro), com o objetivo de ter uma candidatura própria em 2006 para a Presidência da República, é de que possamos sair do governo sem abandonar o apoio parlamentar que nós daríamos aos projetos de interesse do País", reiterou Temer.

Uma nova conversa entre Greenhalgh e Temer, desta vez em caráter formal, poderá ser marcada nos próximos dias. A previsão é de que o futuro encontro seja realizado na Capital Federal.

CAMPANHA

Hoje, Greenhalgh apresenta, em reunião marcada para a tarde, em Brasília, sua plataforma de campanha. Entre as propostas, estão a prioridade para os projetos de autoria dos próprios deputados, a reformulação do instituto de medidas provisórias e a reestruturação da tramitação do Orçamento-Geral da União.

O encontro desta tarde deverá contar com a presença de representantes de diferentes partidos, entre aliados e de oposição. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, já confirmou presença, segundo a Assessoria de Imprensa de Greenhalgh.

O candidato do PT à presidência da Câmara passou todo o fim de semana dando telefonemas para os 513 parlamentares e pedindo apoio à sua candidatura. Pelas contas de assessores, o petista conversou, em média, 15 minutos com cada deputado que conseguiu contatar.