Título: Falta sangue nos principais hemocentros do interior de SP
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2005, Vida &, p. A8

O estoque de sangue para transfusões e cirurgias atinge níveis críticos no interior de São Paulo, cujos hemocentros apressam a realização de campanhas de doação para recompor as reservas e evitar que pacientes fiquem sem atendimento. A redução ocorre por causa da queda no número de doadores, que está mais acentuada desde o fim do ano passado e começo deste do que no mesmo período dos anos anteriores. Cidades das regiões de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Presidente Prudente, Araçatuba, Catanduva, Votuporanga e Fernandópolis estão com até mais de 50% dos seus estoques abaixo dos limites inferiores. Assim como a diminuição no número de bolsas de sangue, os estoques de plaquetas e de hemoderivados também estão reduzidos. Os grupos sanguíneos O e A, especialmente os de fator Rh negativo, são os que mais faltam.

No Hemocentro de Ribeirão Preto, o principal do Estado, que atende cerca de 3,8 milhões de pessoas em 187 municípios, a direção introduziu um gerenciamento para racionar a entrega de bolsas para recomposição dos estoques dos 132 hospitais conveniados. "Só estamos entregando o que é extremamente necessário. A gente pede para o pessoal esperar a situação de normalizar", diz Eugênia Maria Ubiali, coordenadora e médica do hemocentro.

Em Araçatuba, pacientes estão tendo de esperar até 24 horas para ser submetidos a cirurgias ou transfusões. "A situação é crítica por aqui. Nunca o nosso estoque esteve tão baixo", diz a agente de captação do hemonúcleo da cidade, Lucia Maria Buzatti Meca. Segundo ela, a redução dos estoques no fim e começo de ano é esperada por causa da queda do números de doadores, mas nada comparável com o que vem ocorrendo.

Situação semelhante se verifica em Rio Preto, onde os estoques estão 50% abaixo dos limites inferiores no hemocentro, que atende 40 hospitais em 36 municípios. O número de doadores, que era de 100 a 110 por dia, caiu para no máximo 50. "A situação está complicada, mas nossa sorte é que o número de cirurgias também está reduzido nesta época. Porém, se ocorrer alguma tragédia de média ou grande proporção, o nosso estoque será insuficiente", afirma Daniela Cristina Covre, assessora do hemocentro.

CAMPANHAS

Para tentar recompor os estoques, os hemocentros estão realizando campanhas externas. Em Ribeirão Preto, por exemplo, o hemocentro faz campanhas de doações em cidades da região. A coleta de sangue em Jaboticabal, uma semana antes do Natal, evitou que o problema se agravasse no período de festas. Anteontem, a coleta foi em Guariba e no dia 29 será em São Joaquim da Barra. Além disso, o hemocentro programou coletas nas faculdades de Ribeirão, que farão trote solidário com os novos alunos em fevereiro.

O mesmo procedimento está sendo adotado nos hemonúcleos de Araçatuba, Presidente Prudente e Fernandópolis, que marcaram coleta em cidades vizinhas. No hemocentro de São José do Rio Preto, as coletas são feitas em funcionários de empresas da cidade cadastradas previamente, além dos de cidades vizinhas. Cada cidade conveniada a esse hemocentro se compromete a entregar um volume fixo de sangue por mês, mas esse volume está reduzido por causa da falta de doadores.