Título: Abbas proclama-se vencedor
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2005, Internacional, p. A10

Mahmud Abbas declarou-se ontem vencedor das eleições presidenciais palestinas - depois que pesquisas de boca-de-urna indicaram que ele havia obtido entre 66% e 70% dos votos - e dedicou sua vitória a Yasser Arafat, que ele substituirá. Os resultados oficiais devem ser anunciados hoje. "Oferecemos esta vitória à alma de meu irmão Yasser Arafat, a nosso povo, a nossos mártires e aos 11 mil prisioneiros palestinos", nas prisões israelenses, disse Abbas, de 69 anos, durante uma festiva manifestação de seu partido nacionalista Fatah na cidade cisjordaniana de Ramallah.

Tal margem de vitória, se confirmado o resultado da pesquisa, dará a Abbas um claro mandato para renovar as conversações de paz com Israel, conter os militantes e reformar a Autoridade Palestina, contaminada pela corrupção.

Logo após o fechamento das urnas, adiado por duas horas além do horário previsto, a Comissão Central Eleitoral informou que houve 66% de comparecimento do 1,2 milhão dos eleitores registrados. Era necessário um comparecimento de 50% para que as eleições fossem validadas. Havia o temor de baixa participação como resultado do boicote convocado pelo grupo militante islâmico Hamas.

A pesquisa conduzida entre 10 mil eleitores pelo respeitado Centro Palestino para Política e Pesquisa deu a Abbas 66% dos votos. O principal rival de Abbas, o médico Mustafá Barguti, obteve 19,7%. A pesquisa tem uma margem de erro de 3 pontos porcentuais.

Uma segunda pesquisa, realizada pela Universidade Najaf na cidade de Nablus, Cisjordânia, com mais de 5 mil eleitores, deu a Abbas 69,5% dos votos e 24,5% a Barguti. Esta pesquisa tem uma margem de erro de 5 pontos. Outra sondagem, da Universidade Bir Zeit em Ramallah, deu a Abbas 70% dos votos.

Os cinco outros candidatos presidenciais, de um ex-guerrilheiro marxista a um acadêmico em prisão domiciliar nos EUA, tiveram poucos votos.

Os funcionários eleitorais ampliaram por duas horas o horário de votação na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental pois, segundo eles, alguns eleitores estavam sendo retidos nos postos de controle israelenses nos territórios ocupados desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Israel permitiu que 5 mil palestinos de Jerusalém votassem na cidade, forçando o restante dos 120 mil eleitores registrados a viajar para os subúrbios da Cisjordânia para votar. No principal centro de votação de Jerusalém, vans do governista movimento Fatah transportava eleitores para vilarejos vizinhos à cidade.

"Eu adoraria ter votado em Jerusalém pela liberdade e sem nenhum medo", disse Asma Shiyoukhi, moradora da cidade velha de Jerusalém que teve de ir votar no subúrbio de Za¿in.

A votação em Jerusalém Oriental ocorreu em seis postos do correio, onde os eleitores depositaram as cédulas em caixas vermelhas - um procedimento que permitirá a Israel dizer que eles enviaram os votos pelo correio, em vez de exercer a soberania na disputada área. Em meio aos disparos de comemoração em Gaza, Mazen Said, de 30 anos, dizia: "Agora é hora de Abu Mazen (como Abbas é conhecido) retribuir ao povo. Essas pessoas precisam de segurança, vidas melhores e paz." O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, deve reunir-se com Abbas nos próximos dias, após a confirmação oficial da vitória.

O presidente americano, George W. Bush, elogiou as eleições palestinas como um passo essencial em direção ao objetivo de criar um Estado Palestino e prometeu ajudar o novo presidente, em um renovado esforço para alcançar a paz com Israel. Em um comunicado, Bush disse que o novo líder palestino enfrentará "tarefas duras", incluindo o combate ao terrorismo e à corrupção. Bush também pediu a Israel que melhore a situação humanitária e econômica na Cisjordânia e Faixa de Gaza.