Título: Discreto, intelectual e pragmático
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2005, Internacional, p. A11

Operando nos bastidores, Abbas montou uma rede de contatos com israelenses, árabes e serviços secretos

Mahmud Abbas, de 69 anos, favorito nas eleições de ontem, é um dos poucos sobreviventes entre os fundadores da Fatah - a principal agremiação política dentro da OLP. Fundou a Fatah com Arafat e acompanhou-o no exílio na Jordânia, Líbano e Tunísia. Nos primeiros tempos do movimento tornou-se respeitado pelo estilo de vida íntegro e simples. Intelectual respeaitado, Abbas estudou direito no Egito e fez doutorado em Moscou. É autor de vários livros. Mas alguns grupos judeus têm criticado tanto seu doutorado como o livro resultante, The Other Side: the Secret Relationship Between Nazism and Zionism (O Outro Lado: a Relação Secreta Entre o Nazismo e o Sionismo), como uma obra que nega o Holocausto. Eles alegam que ele minimizou o número de vítimas e acusou os judeus de colaborarem com os nazistas.

Em uma entrevista ao diário israelense Haaretz, em maio de 2003, Abbas negou a acusação. "Citei uma discussão entre historiadores na qual foram mencionados vários números. Um escreveu que foram 12 milhões de vítimas e um outro que foram 800 mil", disse ele ao jornal. "Não tenho intenção de discutir os números. O Holocausto foi um crime terrível e imperdoável contra a nação judaica, um crime que não pode ser aceito pela humanidade", disse ele.

Arquiteto dos acordos de Oslo, Abbas sempre se manteve nos bastidores, mas também construiu uma poderosa rede de contatos que incluem líderes árabes e chefes de serviços de informações.

Isso possibilitou que se convertesse num bem-sucedido arrecadador de recursos para a OLP e assumisse um importante papel na segurança no início da década de 1970, sendo nomeado chefe do departamento de relações nacionais e internacionais da OLP em 1980.

Pragmático, Mahmud Abbas foi um dos principais iniciadores do diálogo com a esquerda e movimentos pacifistas judaicos na década de 70 e nos anos difíceis antes que começassem as negociações entre Israel e os palestinos.

Quanto à atual intifada, Abbas tem pedido o fim dos ataques armados a alvos israelenses para evitar dar a Israel pretexto para destruir os últimos vestígios da autonomia palestina.

Por força de suas origens em Safed, Galiléia -- hoje norte de Israel -- ele disse manter forte opinião favorável ao direito ao retorno dos refugiados palestinos. Na recém-formada Autoridade Palestina, Abbas assumiu o problema dos refugiados e pressionou para o avanço desta questão.