Título: China dita rumos da siderurgia
Autor: Beth Moreira
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2005, Economia, p. B10

A China tem sido alvo de atenção de especialistas em siderurgia, que acompanham seus movimentos de perto numa tentativa de mapear seus potenciais impactos no mundo. Depois de pressionar o mercado mundial com uma forte demanda por produtos siderúrgicos, o país começa agora a despontar como potencial exportador de aço, o que pode levar a um movimento contrário no mercado, de excesso de oferta. A preocupação está baseada no forte crescimento da produção chinesa de aço. A produção do país apresenta taxa média de crescimento anual de 10,1% nos últimos dez anos, ante uma média anual de 3,3% de expansão na produção mundial. Analistas apontam a urbanização do país como principal fator a contribuir para o crescimento observado no consumo de aço. Segundo dados do banco Espírito Santo Research, em 1995, apenas 20% da população chinesa vivia nas cidades. Hoje, esse porcentual se aproxima de 40%, enquanto a meta do governo é de que 60% da população esteja nas cidades até 2020.

A última grande pesquisa da China Iron and Steel Association (Cisa), realizada no início de 2004 - entrevistando 240 empresas siderúrgicas, sendo 175 empresas integradas e 65 processadoras -, estimava que a capacidade de aço bruto da China aumentasse de 247 milhões de toneladas em 2003 para 366 milhões de toneladas em 2005, atingindo 445 milhões de toneladas em 2010. Isso corresponderia a um incremento anual médio de 8,8%.

A expectativa da Cisa é de que o aumento rápido da capacidade instalada gerará, no curto prazo, excedentes exportáveis de alguns produtos, mas o país continuará a ser importador líquido. No caso de chapas galvanizadas, por exemplo, estima-se que a capacidade alcance 29 milhões de toneladas em 2005, em comparação a um consumo doméstico de 13 milhões de toneladas.

Um documento da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em junho de 2004, indicava que, mesmo com a decisão da China de reduzir o ritmo de crescimento da siderurgia, a capacidade de produção do país cresceria em cerca de 100 milhões de toneladas entre 2003 e 2005. Informações locais apontam para um potencial de crescimento de 150 milhões de toneladas, tendo em vista os investimentos atuais.

Análise do Espírito Santo Research informa que, entre 2000 e 2003, observou-se na China uma forte aceleração da taxa de crescimento do consumo de aço, que ficou na média em 23% (atingindo 25% em 2003), ante a média mundial de 5%, ampliando o desequilíbrio entre produção e consumo no país e, conseqüentemente, aumentando as importações.

Em 2003, as importações líquidas do país chegaram a cerca de 38 milhões de toneladas, ou 10% das exportações mundiais, ante pouco mais de 10 milhões de toneladas, ou 3% das exportações mundiais, em 2000. "Desse total, podemos estimar que a maior parte representa importações de produtos planos, uma vez que a expansão da produção siderúrgica chinesa tem sido mais forte no segmento de aços longos, dado o perfil de crescimento da demanda, impulsionado basicamente por investimentos em infra-estrutura até o início da década", informa a corretora.

Com números tão surpreendentes, não é de se espantar que haja divergência nas previsões sobre o país. Sejam mais ou menos otimistas, analistas concordam em um ponto: as projeções para o comportamento da siderurgia na China estão sujeitas a um relevante grau de imprecisão, principalmente pela dificuldade no acesso a informações. O jeito tem sido acompanhar de perto os fatores estruturais que apresentam influência sobre os movimentos de importação e exportação de aço pela China - e esperar para ver quem está certo.