Título: País financiará centros de pesquisa clínica
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2005, Vida &, p. A8

O Ministério da Saúde vai destinar R$ 8 milhões neste ano para construção de quatro centros de pesquisa clínica, locais onde eficácia e segurança de terapias, medicamentos e métodos de diagnóstico são testados em pacientes voluntários. A medida, inédita, tem como objetivo dar uma relação mais "institucional" aos projetos de pesquisa e também garantir um local onde possam ser desenvolvidos estudos de interesse do próprio ministério. A expectativa é que, até 2007, seja determinada a construção de 12 destes centros, distribuídos em todas as regiões do País.

O diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do ministério, Reinaldo Guimarães, avalia que a instalação destes núcleos permitirá uma relação "eticamente mais confortável" entre pesquisadores e financiadores dos estudos. Dos 15 mil projetos de pesquisa em andamento hoje no País, conta, a grande maioria foi firmada entre o pesquisador e a companhia que patrocina o trabalho - como empresas farmacêuticas internacionais. "O problema é que muitas vezes nem todo o dinheiro destinado à pesquisa é usado e acaba sendo embolsado pelo próprio pesquisador."

Embora não haja regras que impeçam tal comportamento, Guimarães avalia que há formas em que todo o sistema pode ser beneficiado. "Parte dos recursos poderia ser investida na compra de equipamentos, trazendo ganhos para toda a comunidade local, além de evitar uma relação pessoal entre pesquisador e a empresa financiadora", argumenta.

Não são todas as pesquisas, no entanto, que são acertadas apenas entre pesquisador e a empresa financiadora. O diretor-presidente do Instituto do Coração (Incor), José Antonio Ramirez, afirma que todas as pesquisas são acertadas entre a instituição e a empresa. "Não há nada de pessoal", garante. "E todos os recursos da pesquisa são destinados para financiamento dos trabalho."

LINHAS

A idéia é que o centro geral de pesquisa clínica seja construído num hospital de ensino, credenciado no Ministério da Saúde e no Ministério da Educação. O formato de cada núcleo deve ser definido em uma reunião marcada para março.

Mas Guimarães avalia que ele deve contar com pouco mais de uma dezena de leitos e uma equipe fixa de profissionais, como enfermeiros e funcionários que trabalham com estatística. "A idéia é que seja um centro à disposição para executar várias linhas de pesquisa, sejam financiadas por indústrias, sejam elas de grande interesse em saúde pública." Como novas combinações de medicamentos antiaids, por exemplo. "Muitas vezes, falta local onde tal trabalho possa ser executado", afirmou. Os primeiros quatro centros serão escolhidos por edital.

A iniciativa do ministério vem num momento em que a indústria farmacêutica acena com a possibilidade de fazer gordos investimentos no País, na área de pesquisa clínica. Embora haja interesse, muitas queixam-se da burocracia brasileira para avaliação das propostas de pesquisa.

O PROJETO

A PROPOSTA: Criar centros gerais de pesquisa clínica em hospitais universitários. Tais núcleos ofereceriam infra-estrutura e uma equipe de profissionais para desenvolvimento de pesquisas de grande interesse para saúde pública

METAS: Criar 12 centros em 3 anos. Para os quatro primeiros, o ministério deverá investir R$ 8 milhões

QUEM PODERIA USAR: Todos os pesquisadores interessados e classificados pelo centro. Mas em tais núcleos, os recursos seriam controlados pela instituição, e não pelo pesquisador, como acontece em alguns centros existentes