Título: Encontro discute os perigos das políticas conservadoras de Bush sobre sexualidade
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2005, Vida &, p. A9

O impacto de ações conservadoras nas áreas de reprodução e sexualidade, adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pode extrapolar o contexto americano, provocando a expansão e a legitimação de diretrizes igualmente ultradireitistas em outros países. A conclusão consta do relatório O Kamasutra de Bush: Muitas Posições sobre o Sexo, lançado ontem, na versão em português, durante reunião da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), no Rio. "São posições muito explícitas e autorizam que outros setores com opiniões equivalentes comecem a se expressar com a mesma virulência, em decorrência do peso dos EUA, criando um clima favorável para a disseminação de vozes que comprometem os direitos humanos", avaliou a antropóloga Sonia Corrêa, coordenadora, no Brasil, do Grupo de Trabalho Internacional para Sexualidade e Política Social, responsável pelo estudo. Até quinta-feira, ela se reunirá com pesquisadores brasileiros e estrangeiros para planejar ações globais de resistência às políticas americanas.

Desenvolvido pela advogada canadense Françoise Girard, o relatório destaca que Bush, em associação com grupos religiosos e de extrema direita, têm criado leis e implementado políticas públicas que vão de encontro a consensos internacionais. Durante sua primeira gestão, a Casa Branca declarou publicamente que o País "não apóia serviços relacionados a aborto ou uso de remédios para abortar" e reativou uma medida coercitiva, descontinuada na gestão de Bill Clinton (1993-2000).

Conhecida como Regra da Mordaça Global, ela estabelece que ONGs estrangeiras que recebem fundos de planejamento familiar da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) estão proibidas de usar recursos próprios ou de outras fontes para oferecer, divulgar ou encaminhar pacientes para serviços de abortos legais. "Com isso, a Usaid tem autonomia fazer auditoria em ONGs de qualquer país, com o intuito de detectar se os recursos estão aplicados como foi determinado", explicou Sonia.

No Brasil, a agência apóia projetos de saúde desde 1994. A última negociação entre os dois países prevê o envio de U$S 48 milhões, de 2003 a 2008, exclusivamente para prevenção da aids.

Ainda assim, Sonia considerou que é preciso ficar alerta para as exigências de financiamento feitas pelos EUA. "Não podemos descuidar, pois acordos futuros podem ficar contaminados por questões morais e religiosas impostas pelo governo Bush", disse ela, observando que os Estados Unidos está promovendo a abstinência sexual até o casamento como forma de prevenção ao HIV.