Título: Sharon forma gabinete com esquerda
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2005, Internacional, p. A12

Ao mesmo tempo em que as autoridades israelenses comemoravam discretamente a eleição do moderado Mahmud Abbas para a presidência da Autoridade Palestina, o primeiro-ministro israelense, o conservador Ariel Sharon, conseguia ontem aprovar na Knesset (Parlamento) uma nova coalizão de governo por 58 votos a favor e 56 contra - graças, principalmente, ao apoio da esquerda pacifista. Se não houvesse conseguido o apoio de cinco dos seis deputados da frente Yahad (novo partidos de esquerda formado por dissidentes do Meretz e do Partido Trabalhista), o governo de Sharon teria sido derrubado e o Parlamento, dissolvido. O governo de Sharon começou a balançar com a deserção da ala radical de seu próprio partido, o Likud, em protesto contra seu plano de remover todos os assentamentos da Faixa de Gaza e quatro da Cisjordânia ainda este ano.

A favor do novo governo, do qual faz parte o histórico líder trabalhista Shimon Peres, votaram 28 deputados do Likud - dos 40 que o partido tem na Knesset -, todos os 21 trabalhistas e 4 dos 5 parlamentares do ultraortodoxo Judaísmo Unido da Torá, os novos parceiros de Sharon na heterogênea "coalizão de unidade nacional".

Doze deputados do Likud se rebelaram contra Sharon, mesmo sob risco de verem o Parlamento dissolvido - uma vez que o primeiro-ministro pôs em votação uma "moção de censura" juntamente com a aprovação do novo governo.

Se os cinco deputados da frente Yahad tivessem votado contra Sharon, a oposição teria conseguido os 61 votos necessários para convocar eleições antecipadas.

Zehava Galon, presidente do Yahad, argumentou que, embora não apóie Sharon, a frente "votou a favor dele para garantir a aplicação do plano de retirada de Gaza".

Os pacifistas consideram um passo histórico que um primeiro-ministro de direita tenha se comprometido a se retirar de assentamentos judaicos de forma unilateral, o que no futuro servirá de precedente em negociações de paz com os palestinos.

No que todos os analistas políticos vêem como uma divisão irreversível, os rebeldes do Likud anunciaram que votariam contra Sharon a menos que ele convocasse um referendo sobre o plano de retirada. A ameaça levou Sharon a pedir a "moção de censura" para forçar os rebeldes a votar a favor dele, numa manobra que quase lhe custou o governo.