Título: Dólar fraco afeta pouco o Brasil, diz Meirelles
Autor: Lourdes Sola
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2005, Economia, p. B3

Os principais representantes dos principais bancos centrais do mundo avaliaram os efeitos da desvalorização do dólar. Segundo eles, os países que têm maior dependência de exportações para os Estados Unidos, como alguns europeus, da Ásia e o México, devem ser mais atingidos. Não é o caso do Brasil, que destina só 21,5% de suas exportações para os EUA. "Todos evidentemente são afetados em graus diferentes, mas o Brasil será menos por causa dessa relação com o dólar", disse o presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles. A questão foi tratada na reunião do Grupo dos Dez (G-10), na Basiléia, Suíça. Os bancos centrais acreditam também no aumento do apetite pelo risco, do qual o Brasil pode se beneficiar. Acredita-se na maior disponibilidade de capital e tendência de queda do risco país. "Os mercados estão vendo riscos baixos no sistema, o que tem impacto direto nos papéis, especialmente dos países emergentes", disse Meirelles.

De acordo com o presidente, espera-se que o mercado continue prevendo uma situação favorável para países como o Brasil, elogiado no encontro pela política monetária e pelo trabalho do BC.

O sinal de que o governo americano vai iniciar um ataque ao seu déficit público trouxe otimismo e, talvez, um certo alívio aos representantes dos BCs. De acordo com Meirelles, essa foi uma discussão importante O anúncio do secretário do Tesouro americano, John Snow, na reunião do G-20, em Berlim, de iniciar ajustes na economia do país foi vista como uma mudança importante nos rumos da economia global. "A conclusão foi que o equilíbrio fiscal é fundamental para a estabilidade de qualquer país, mesmo para um com a força econômica dos Estados Unidos", disse. "Há limites para o endividamento público."

EXPANSÃO

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, garantiu que, "apesar da desaceleração de 2004, há o sentimento de que o crescimento em 2005 seja igualmente substancial e fique em torno de 4%". Ele, que também é porta-voz da Reunião de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements, BIS), completou: "Estamos prevendo uma expansão sustentável do comércio mundial para 2005."

Segundo Trichet, o grupo avalia que o mercado financeiro teve um nível baixo de spreads, de volatilidade de preços, de prêmios de risco e das taxas de juros reais. Trichet acredita que os riscos existentes, como petróleo e desequilíbrios internos (leia-se déficit americano) devem ser absorvidos de forma suave e progressiva, mas salientou a importância de não se subavaliar os riscos.

"Estamos cientes da vontade do governo americano de levar em consideração a necessidade de reduzir o déficit público." O porta-voz da reunião lembrou que isso é algo muito importante e disse que todos os países presentes têm deveres de casa. Ao que parece, assim como o governo americano tem o de fortalecer o dólar, os europeus têm o de aumentar o potencial de crescimento.

Ao avaliar o mercado mundial, Trichet admitiu que o crescimento global depende também dos resultados dos emergentes. Na avaliação do G-10, esses países comportaram-se bem em 2004 e devem se comportar bem em 2005. "Estão fazendo um bom trabalho." Perguntado especificamente sobre o Brasil, Trichet resolveu fazer uma observação pessoal, dizendo-se " impressionado" com o trabalho que tem sido feito.