Título: `Somos nós contra nós mesmos¿, diz Lula sobre disputa no PT
Autor: Denise Madue¿oEugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2005, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confidenciou a três interlocutores, nos últimos dias, que acha "incompreensível" a disputa fratricida entre dois grupos do PT para a escolha do novo presidente da Câmara. "Não entendo. Somos nós contra nós mesmos", afirmou Lula. Para ele, o embate na seara petista - que movimenta o período de entressafra política - atrapalha a imagem não só do partido, como do governo, causando constrangimentos. Mesmo assim, apesar de apoiar Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para o comando da Câmara, Lula disse que, pessoalmente, não moverá uma palha para solucionar a crise.

"Eu, como presidente, não interfiro", garantiu ao deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), que lançou candidatura avulsa. Diante de um magoado Virgílio, o presidente prosseguiu: "Mas, como militante do PT, eu me submeto às decisões da bancada e, portanto, o candidato escolhido é Luiz Eduardo Greenhalgh."

A conversa foi na semana passada, mas até hoje as feridas não cicatrizaram. As eleições para a renovação das direções da Câmara e do Senado serão no dia 14 de fevereiro. Sentindo-se preterido, Virgílio mantém discurso de candidato. Para o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, a posição de Virgílio "passou do razoável".

"Não estou fazendo cera para aparecer nem quero me credenciar para outro cargo", disse o mineiro, ontem, ao sair do gabinete do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, no Palácio do Planalto. "Este é um momento de realização pessoal fantástico. Não tenho nada a temer. O resultado pessoal é mais importante que o eleitoral", emendou Virgílio.

Rebelo mais ouviu do que falou e, por ordem de Lula, não tentou convencer o deputado a desistir. O escalado para a tarefa foi o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), que conversou com Virgílio por telefone. Foi mais uma tentativa frustrada.

COERÊNCIA

Com a situação confusa, os aliados aproveitam para cobrar coerência do PT. "Eu estou com Greenhalgh e espero reverter votos contrários no meu partido, mas, primeiro, o PT tem de se entender", avisou o deputado Roberto Jefferson (RJ), que comanda o PTB.

O presidente do PT, José Genoino, marcou reunião para hoje com o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Vai pedir apoio a Greenhalgh. O PFL lançou a candidatura do deputado José Carlos Aleluia (BA).

"Minha missão é articular. Toda a sucessão na Câmara e no Senado, em meio de legislatura, dá tensão", afirmou Genoino. Ele não tem dúvidas, no entanto, de que a crise será solucionada. "Estamos trabalhando com calma para convencer Virgílio", insistiu.

Greenhalgh começará a viajar amanhã, em busca de votos. "Os prefeitos e dirigentes do PT têm o dever de contribuir para que as deliberações do partido saiam vitoriosas", observou Marcelo Déda, prefeito de Aracaju, primeira cidade a ser visitada por Greenhalgh.

Mais do que um confronto de nomes, porém, a disputa petista revela uma queda-de-braço entre grupos com pretensões políticas para 2006. O atual presidente da Câmara, João Paulo Cunha, por exemplo, é pré-candidato ao governo paulista e está em pé de guerra com Genoino.

Acha que ele trabalha em favor do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, que também sonha com o Palácio dos Bandeirantes.

Na outra ponta, mais um grupo de deputados petistas - formado por José Eduardo Martins Cardozo, Sigmaringa Seixas e Paulo Delgado, entre outros - avalia que a atuação de João Paulo é de compadrio e deixa a desejar politicamente. Colaboraram: Leonêncio Nossa e Eugênia Lopes