Título: Enquanto isso, Chile lança campanha para ser bilíngüe
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2005, Nacional, p. A7

Em muitas partes da América Latina, a resistência ao domínio cultural dos Estados Unidos muitas vezes significa uma relutância em aprender ou falar inglês. Mas no Chile, onde Salvador Allende foi outrora um farol para a esquerda, o atual governo liderado pelos socialistas iniciou uma grande campanha para tornar o país bilíngüe. O Chile já possui a economia mais aberta da América Latina. O plano da língua é visto como um avanço desse processo. O governo negociou acordos de comércio livre com os EUA, Canadá, União Européia e Coréia do Sul nos últimos anos, está dialogando com a Nova Zelândia e Cingapura e promoveu a última conferência de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, com presença dos líderes de 21 nações, entre eles o presidente americano, George W. Bush.

"Temos alguns dos mais avançados acordos comerciais do mundo, mas isso não é suficiente", afirmou o ministro da Educação, Sergio Bitar. "Sabemos que nossa vida está mais ligada do que nunca a uma presença internacional. Se você não pode falar inglês, não pode vender nem aprender." A fase inicial do programa de 18 meses, conhecido oficialmente como "O inglês abre portas", pede que todos os estudantes do ensino fundamental e médio sejam capazes de passar num teste padrão de escuta e leitura daqui a uma década. Mas o objetivo mais ambicioso, no longo prazo, é tornar todos os 15 milhões de chilenos fluentes em inglês daqui a uma geração.

"Os suecos levaram 40 anos para chegar a esse ponto", disse Bitar, acrescentando que considera os países nórdicos e do sudeste da Ásia, como a Malásia, modelos para o Chile. "Também levaremos décadas, mas estamos no caminho certo." Em qualquer outro país da América Latina, uma campanha para tornar o inglês universal inevitavelmente provocaria protestos contra a destruição da identidade cultural da nação.

No Chile, as poucas críticas são de que as crianças deveriam falar espanhol melhor antes de tentar aprender inglês. Pouquíssimos grupos opõem-se ao programa por razões ideológicas.