Título: Radicais acenam, mas mantêm ataques contra Israel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2005, Internacional, p. A12

Na segunda-feira, Gaza Sayeed-Hassan, de 23 anos, cabelos raspados e barba fina, só podia perambular de muletas pelo campo de refugiados de Jabaliya, em Gaza. Ele não lançou mais nenhum foguete Qassam contra Israel desde quando os disparos de um helicóptero israelense atingiram uma de suas pernas, há 19 meses. Mas nem seus ferimentos - sofridos após ele ter disparado foguetes contra a cidade isralense de Sderot - nem as palavras de Mahmud Abbas, o novo presidente palestino, abalaram sua determinação de lutar. O militante do Hamas pretende voltar ao combate assim que se recuperar totalmente.

"Voltarei a lançar foguetes contra Israel até eles suspenderem a ocupação e saírem de nosso país", disse Hassan. "É eficaz. É por isso que Israel quer se retirar de Gaza." Sua mensagem inflexível, diante da denúncia de Abbas das barragens de foguetes como "inúteis" e de seus apelos pelo fim da violência, foi ecoada segunda-feira pela liderança do Hamas em Gaza. Ela indica uma estrada acidentada para Abbas.

Em entrevista ao jornal britânico The Times, Sami Abu Zuhri, o porta-voz do Hamas em Gaza, afirmou que o grupo conserva o direito de continuar lutando, embora também vá dialogar com Abbas para fortalecer sua posição.

"A resistência não é apenas a decisão do Hamas", disse Abu Zuhri. "É também a decisão do povo palestino, e ele quer continuar a luta. Não cabe à Autoridade Palestina decidir que ela deve parar." Abu Zuhri não descartou a possibilidade de um cessar-fogo e o diálogo entre Abbas e o Hamas é possível; mas parece que os dois têm pouco a conversar.

"Tratar com Abu Mazen (como Abbas é conhecido) não significa ter de aceitar tudo - ou qualquer coisa que ele diz", afirmou Abu Zuhri. "Não vamos fazer nada para causar problemas para ele, mas, afinal, o Hamas e a Fatah não são a mesma coisa."

No campo de Jabaliya, as diferenças não poderiam ser mais acentuadas. Ativistas do Hamas professam seu relutante respeito pela vontade do eleitorado palestino, mas prometem continuar a guerra.

Ontem, radicais palestinos de Gaza atacaram Sderot com mísseis Qassam, causando apenas danos materiais.

Eles também dispararam granadas de morteiro contra assentamentos em Gush Katif, sul da Faixa de Gaza, sem provocar vítimas.