Título: Com Cruzado, explosão do PIB. Depois, a depressão
Autor: Jacqueline FaridColaboraram: Celia Foufre, Cleid
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2005, Economia, p. B1

Inflação congelada, explosão de consumo, indústrias trabalhando em plena capacidade. Na esteira do Plano Cruzado, o PIB brasileiro viveu um grande surto de crescimento em 1986: 8,2%, segundo o IBGE. A indústria cresceu 10,9%, a maior taxa desde 1973, o último ano do "milagre" econômico. Apesar de o plano - lançado em 28 de fevereiro - ter fracassado antes do primeiro aniversário, as indústrias lucraram como nunca. Até setembro daquele ano, o setor siderúrgico havia registrado um lucro quase 100 vezes maior do que em igual período no ano anterior, enquanto o setor de bens de consumo duráveis (que inclui eletrodomésticos e automóveis) havia lucrado mais do que nos tempos do "milagre".

A despeito da robustez desses números, 1986 foi um ano que começou em euforia e terminou em depressão. Depois de conviver com uma inflação de cerca de 16% nos 2 primeiros meses do ano, o consumidor vestiu a camisa de fiscal do Sarney e ajudou a garantir uma deflação de - 0,11% em março. A "guerra de vida ou morte" declarada pelo então presidente José Sarney contra a inflação provocou um enorme surto de consumo que esbarrou no limite da capacidade produtiva do País.

Após crescer cerca de 50% no primeiro semestre ante o mesmo período em 1985, a indústria automobilística parou por falta de componentes. Em julho, os jornais noticiavam a existência de 8 mil veículos parados nos pátios das montadoras. Muitos produtos sumiram das prateleiras, enquanto outros, como a carne, eram vendidos com ágio de até 180% acima da tabela do governo.

Apesar de o BNDES também ter registrado recordes nos desembolsos para investimentos em ampliação de capacidade produtiva naquele ano, não houve tempo hábil para adequar oferta e demanda. O resultado foi a volta da inflação, que ficou em 60% no acumulado do ano.