Título: Produção industrial de 2004 teve o melhor desempenho em 18 anos
Autor: Jacqueline FaridColaboraram: Celia Foufre, Cleid
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2005, Economia, p. B1

A produção industrial brasileira deve fechar 2004 com o melhor resultado desde 1986, ano da explosão de consumo do Plano Cruzado. Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que em novembro houve acomodação da produção, com ligeira queda ante outubro, de 0,4%. Mas os recordes de crescimento verificados durante o ano garantiram acumulado de 8,3% de janeiro a novembro e aumento de 8,1% em 12 meses, o que deve resultar na maior expansão em 18 anos. Os números finais serão divulgados em fevereiro. Novembro mostrou desaceleração na margem, mas houve crescimento de 8,1% ante igual mês de 2003, o 15.º consecutivo nessa base de comparação. Os dados revelam também maior peso do mercado interno, especialmente de setores que dependem do desempenho do mercado de trabalho.

A previsão de economistas e do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) para o acumulado da indústria em 2004 gira em torno de 8%. Esse resultado é considerado praticamente certo pelo chefe de coordenação de indústria do IBGE, Silvio Sales. Em 1986, o setor cresceu 10,9%. O melhor desempenho mais recente foi registrado em 1994, início do Plano Real, quando o aumento foi de 7,6%.

Sales destacou que os dados de novembro confirmam que a passagem do terceiro para o quarto trimestre marcou, para o setor, uma acomodação provocada por "uma suave desaceleração" dos bens de consumo duráveis (carros, eletrodomésticos) e bens de capital e uma "suave aceleração" de bens de consumo semi e não duráveis (alimentos, calçados, roupas).

Segundo ele, a melhora do mercado de trabalho elevou a demanda interna, que foi mais intensa não apenas como resultado da melhoria das condições de crédito, mas também pela recuperação da massa salarial. Sales explicou que a acomodação do setor em novembro está clara sobretudo no índice de média móvel trimestral, considerado o principal indicador de tendência, que mostra queda de 0,2% na produção no trimestre encerrado em novembro ante o terminado em outubro.

Nesse indicador, os bens de consumo semi e não duráveis foram o único segmento a apresentar pequeno crescimento (0,4%). Os segmentos de duráveis (-1%), bens de capital (-0,8%) e intermediários (-0,6%) apontam queda na produção no índice de média móvel. "A influência do mercado interno sobre o desempenho da indústria está crescendo, especialmente nos segmentos que dependem mais do mercado de trabalho e menos de crédito", disse Sales.

O economista sublinhou que a trajetória de 15 meses seguidos de aumento da produção não ocorria desde junho de 2001, quando foi interrompido processo de 22 meses de aumento.

VEÍCULOS

A indústria automobilística está entre os segmentos que ajudaram a puxar a produção industrial em 2004. O setor produziu volume recorde de 2,2 milhões de veículos. Individualmente, pelo menos três montadoras tiveram o melhor desempenho no País.

A Volkswagen fabricou 682,9 mil veículos, 24% acima de 2003. Na GM, a produção de 563 mil carros foi a maior em 80 anos. Outro recorde é da DaimlerChrysler, com 49 mil caminhões e ônibus, 30% acima de 2003. Da fábrica da Ford na Bahia saíram 195,6 mil carros, um aumento de 41%.

O resultado da indústria em novembro foi recebido com otimismo por analistas, para quem há chances de a expansão ante o mês anterior ser retomada em dezembro. "A curva do último mês sinaliza algo entre estabilidade e expansão", disse a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi. Na MCM Consultoria, o economista Cristiano Souza lembrou que indicadores de atividade já divulgados, como fabricação de veículos e de papel ondulado, vieram fortes em dezembro. "A produção industrial deve ter melhora na margem em dezembro, já que está praticamente parada desde agosto."