Título: Para analistas, juro alto sobrevaloriza o real
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2005, Economia, p. B3

As altas taxas de juros do Brasil podem estar provocando uma valorização artificial do real, na opinião de diversos economistas, inclusive de orientação ortodoxa, como Sérgio Werlang, diretor executivo do Banco Itaú e ex-diretor do Banco Central (BC). "A meu ver, estamos com o câmbio muito valorizado, principalmente porque a taxa de juros está muito elevada", diz Werlang. Os altos juros em reais atraem capitais externos em busca de ganhos rápidos. Ele acha que o BC não esperava que o IPCA de 2004 ficasse tão acima do centro da meta para o ano, de 5,5%. "Me parece que derrubar a inflação de 7,4% (IPCA esperado em 2004) para 5,1% (meta ajustada para 2005) em 12 meses é um pouco rápido demais; eu faria algo mais lento", diz o diretor do Itaú.

Recente cálculo do Itaú mostrou que o real se valorizou mais ante o dólar, em termos reais, do que as moedas de diversos países e dos principais blocos econômicos mundiais, nos últimos dois anos.

Para Paulo Nogueira Batista Júnior Jr., economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, "se o real continuar se valorizando, ou permanecer sobrevalorizado, vai afetar a balança comercial, desestimulando setores que exportam e que competem com as importações". Ele acha que uma das opções para conter a alta do real, além de baixar os juros, seria estabelecer controles para a entrada de capitais.

Outra opção para conter a alta do real é a compra de dólares pelo BC ou pelo Tesouro. Em dezembro, o BC comprou cerca de US$ 2,5 bilhões. Em janeiro, continuou a comprar.

Mônica Baer, economista da MB Associados, acha que, para empresários de comércio exterior, o maior problema é a incerteza quanto à tendência da moeda americana. Ela acredita que o BC e o governo poderiam sinalizar de forma clara que preferem alguma desvalorização.

Uma outra corrente de economistas discorda da visão de que o real está perigosamente sobrevalorizado. Caio Megale, macroeconomista da Gávea Investimentos (do ex-presidente do BC Armínio Fraga), nota que a valorização em relação ao dólar tem um efeito muito mais intenso em países com a maior parte do comércio exterior com os Estados Unidos, como o México e o Canadá, do que no Brasil, que negocia mais com mercados não americanos. Assim, é natural que o real tenha se valorizado mais ante o dólar do que a moeda daqueles países.

Para Beny Parnes, diretor executivo do Banco BBM, no Rio, e ex-diretor do BC, "o câmbio é livre, e o Banco Central está comprando o que acha oportuno comprar, num movimento de aumentar reservas sem olhar a taxa". Ele observa que não há sintomas de câmbio valorizado, já que o saldo comercial continua robusto e o investimento externo está aumentando, sem sinal de problemas no balanço de pagamentos.

Parnes também acha que, levando em conta a média histórica, é razoável que o Brasil tenha um câmbio mais valorizado: "A economia se ajustou e o nível de risco brasileiro caiu, com uma trajetória sólida de combate à inflação, desempenho fiscal e câmbio flutuante". Ele lembra que "no início de 2004 estávamos super-impacientes, e o País acabou crescendo 5%". E conclui: "É preciso ter calma, as políticas estão dando resultados".