Título: Para Meirelles, déficit do Brasil tem padrão europeu Presidente do BC diz a empresários e banqueiros suíços que déficit nominal de 2,9% obtido pelo
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2005, Economia, p. B4

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou ontem que o déficit nominal atingido pelo País em 2004 já colocaria a economia brasileira dentro dos critérios do Tratado de Maastricht, pacto realizado em 1992 entre os governos europeus para garantir a estabilidade da região e a adesão a uma moeda única. Segundo o tratado, os países da União Européia devem ter seus déficits nominais em um nível máximo de 3%. "Nossa última estimativa foi de que fechamos 2004 com um déficit nominal de 2,9%", disse o presidente do BC. A afirmação de Meirelles foi feita a um grupo de cerca de 50 empresários e banqueiros suíços, em uma reunião fechada ontem em Zurique. "Essa é um tendência extremamente positiva", afirmou Meirelles.

Apesar de o presidente do BC apresentar o fato dessa forma, na Europa os critérios do Tratado de Maastricht são duramente criticados por supostamente terem limitado o crescimento da região nos últimos dez anos e por terem engessado a capacidade dos governos em investir. Pelo tratado, os países que não cumprissem a meta seriam punidos.

Para 2005, o BC prevê crescimento do PIB em 4% e garante que o desempenho positivo já está se espalhando pela economia. Prova disso seria a criação de empregos no País. Meirelles ainda apresentou números para demonstrar que a recessão em 2002 foi curta e com efeitos menores que a da Argentina. De toda forma, o País teria perdido o equivalente a 6% do PIB em linhas de crédito em 2002. O presidente do BC, porém, argumentou que outras economias em situações similares teriam tido uma queda de PIB de mais de 10%. O Brasil conseguiu um aumento de 0,5% no ano seguinte à turbulência.

Empresários ainda contaram que Meirelles deixou claro que o consumo interno está se recuperando. Entre os empresários, há temores de que, com crescimento econômico e o dólar relativamente desvalorizado, as importações voltem a crescer, afetando a balança comercial. Mas Meirelles garantiu que as exportações ainda estão crescendo a uma taxa superior e o superávit com a China pode ser importante nesses cálculos.

Meirelles também admitiu que, em 2002 e começo de 2003, o superávit na balança comercial ocorreu por causa da recessão, e não por causa do aumento das exportações. Essa situação não seria a mesma hoje, com a maior internacionalização da economia nos últimos anos. Em 2000, por exemplo, a relação entre comércio exterior e PIB era de apenas 18,3%, passando para 27% em 2004. Para 2005, a relação será de quase 30%.

JUROS

Durante o encontro, de cerca de uma hora em um elegante restaurante de Zurique, Meirelles apresentou os últimos números da economia brasileira e tentou provar que o País está em um rumo sustentável. Para os empresários e banqueiros, a principal dúvida era saber quando as taxas de juros poderiam ser reduzidas, diante da situação relativamente estável.

Um representante do Banco Credit Suisse insistiu em saber por que, se a situação estava tão favorável como apontava Meirelles, as taxas de juros não caíam. Segundo executivos que estiveram na reunião a portas fechadas, o presidente do Banco Central indicou que a queda dependeria da trajetória da inflação e das expectativas do mercado em relação à inflação futura. Os empresários saíram convencidos de que o governo poderia adotar uma política monetária menos rígida se esses fatores fossem observados. A expectativa do mercado é de que inflação fique em 5,6% em 2005. Para o BC, a taxa pode ficar um pouco acima de 5%.

Quanto aos investimentos diretos no Brasil, o BC indicou aos empresários que sua projeção é estar recebendo US$ 14 bilhões em 2005, volume menor que em 2004, quando o total chegou a US$ 16 bilhões. "O BC é sempre conversador quando fala de números. Projetamos apenas números onde há uma indicação mais sólida. Hoje não há nenhum indicação além disso", disse Meirelles após a reunião.