Título: Europa aprova e Lavagna anuncia redução da dívida
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2005, Economia, p. B9

O ministro da Economia, Roberto Lavagna, se tornará hoje um imbatível candidato ao Guinness Book dos Recordes, na condição de negociador e porta-voz da maior reestruturação de dívida pública da história mundial. "El canje de deuda" (a troca de dívida), como é chamada na capital argentina essa operação, implicará a reestruturação de uma dívida de US$ 81 bilhões, que será reduzida - dependendo do grau de aceitação dos credores privados - para uma faixa entre US$ 38,5 bilhões e US$ 41,8 bilhões. Na prática, a troca de títulos velhos, em estado de calote, pelos novos, reestruturados, começará na sexta-feira, dia 14. E terminará no dia 25 de fevereiro, às 16h15, horário de Nova York. No entanto, o governo estuda a possibilidade de prolongar a operação até a primeira semana de março.

O país está em estado de calote desde 23 de dezembro de 2001, dia em que o presidente provisório Adolfo Rodríguez Saá anunciou o default da dívida pública com os credores privados.

A contagem regressiva para o lançamento formal da reestruturação da dívida está sendo feita com calma pelos integrantes do governo do presidente Néstor Kirchner. Nos corredores da Casa Rosada e do Ministério da Economia, o clima de confiança moderada consolidou-se ao ser anunciado - pouco mais de 24 horas antes do lançamento da operação - que os organismos reguladores dos mercados na Alemanha e em Luxemburgo haviam aprovado a proposta argentina.

Essas aprovações se somam às recentes autorizações obtidas dos organismos equivalentes nos Estados Unidos e na Itália. Por enquanto, o governo Kirchner não obteve a aprovação do organismo do Japão, país que concentra 3% dos donos de títulos argentinos.

As aprovações nos EUA e na Europa evidenciaram a falta de coordenação das associações de credores privados em todo o mundo, que haviam ameaçado bloquear o lançamento de troca da dívida nos tribunais internacionais.

A expectativa de sucesso na operação cresceu mais ainda depois que o jornal americano The Wall Street Journal indicou na edição de ontem que o governo Kirchner, apesar dos protestos dos credores, conseguiria realizar a troca da dívida. Segundo o jornal, "essa troca da dívida transformou-se em prova de até onde um país emergente endividado pode ditar as condições aos credores".

Analistas financeiros achamque o governo argentino poderia conseguir a adesão de 60% a 65% dos credores. As lideranças das associações argentinas de credores prometem guerra nos tribunais nas próximas semanas. Mas analistas consideram que elas ficarão isoladas, já que a maioria dos pequenos credores acabará aceitando a proposta do governo. "Eles perceberam que é melhor um pássaro na mão do que vários voando", é a frase usada para explicar o fenômeno.

Ontem o presidente Kirchner encerrou uma período de quatro dias de descanso na Patagônia para estar em Buenos Aires e ver de perto o lançamento da operação.