Título: Servidor não é marajá, diz Lula
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa dos servidores públicos na tarde de ontem. Aproveitando uma solenidade onde assinou a criação do plano de carreira dos funcionários de escolas federais, Lula disse que a categoria tem fama de ganhar muito e trabalhar pouco. "No Brasil, desde o final da década de 80, ser funcionário público era sinônimo de coisa ruim. Se ganhava R$ 500 por mês, era chamado de marajá. Quem ganhava R$ 100 já era muito. De vez em quando, coloca na manchete: fulano de tal ganha R$ 20 mil por mês. Bate o carimbo nas costas de todo mundo achando que todo mundo ganha aquilo, quando, na verdade, há uma grande maioria que ganha aquém do que a dignidade da profissão exige", disse. "A iniciativa privada tem a fama que lá se trabalha muito e não se ganha tanto. Os servidores públicos têm a fama contrária: de que ganham muito e trabalham pouco. Isso durante 10 anos foi vendido para a sociedade brasileira", afirmou o presidente, jogando para o governo anterior os problemas na relação com os servidores.

Aplaudido de pé quando assinou a criação do plano, o presidente fez questão de elogiar os servidores, afirmando que o impressiona a dedicação de profissionais que, muitas vezes, ganham um terço do que receberiam na iniciativa privada. "Esse projeto é o reconhecimento público de uma coisa que esteve escondida durante 30 anos", disse. "Não é fácil resolver dívidas de mais de três décadas. A diferença é que nosso governo está empenhado na construção conjunta de uma base sólida para resolver esses problemas."

O presidente afirmou ainda que estão sendo dados os primeiros passos para que seja feita justiça aos servidores públicos, até hoje tratados como sinônimo de coisa ruim. "É muito, mas ainda não é tudo. É pouco ainda diante do que temos por fazer para o funcionário público ser tratado com o respeito e a decência que merece", disse Lula, acrescentando que os novos passos serão dados pelo seu governo.

Ele falou de improviso na maior parte do tempo, mas também leu parte do discurso previsto. Por isso, acabou por destacar duas vezes o fato de ter sido o primeiro governo republicano a ter conseguido assinar -cordos salariais com todos os sindicatos de servidores, com exceção do Andes - que representa os professores das universidades federais.

CRÍTICAS

Apesar dos acordos salariais, o governo federal tem sido alvo constante de críticas por parte de sindicatos do serviço público, especialmente em relação às reformas sindical e trabalhista, ainda a serem propostas, e a previdenciária, já aprovada pelo Congresso. Talvez por isso o presidente tenha feito questão de pedir, em seu discurso, tolerância nas discussões.

"Se criarmos entre nós o hábito de acreditarmos que estamos sendo sinceros quando falamos sim e não, digo das duas partes, e tivermos paciência de sentarmos em torno de uma mesa e em torno dela for tentando tirar nossas diferenças, vamos perceber que ao longo de conversas podemos resolver mais problemas do que se entra em disputa frontal. É aquele negócio de colocar o pé na parede e dizer: a minha verdade é absoluta, a do outro não vale nada", afirmou.