Título: A votação no Iraque deve ser adiada
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2005, Internacional, p. A14

Quando os EUA discutiam se invadiriam ou não o Iraque, havia um desfecho que, todos concordavam, tinha de ser evitado: uma guerra civil entre muçulmanos sunitas e xiitas, que criaria instabilidade no Oriente Médio e daria aos terroristas uma região sem governo que eles poderiam usar como base de operações. As eleições que se aproximam - longamente elogiadas como o começo de um Iraque novo e democrático - se parecem cada vez mais com o começo daquele pior cenário. É hora de falar em adiar as eleições. Para sobreviver como nação, o Iraque precisa criar um governo no qual a maioria lidere - neste caso, os xiitas -, mas as minorias tenham a garantia da proteção de seus direitos básicos e voz suficiente para influenciar decisões importantes.

Os curdos, sunitas não-árabes que vivem no nordeste do país, parecem acreditar que as eleições lhes darão o que eles mais querem: relativa autonomia para conduzir seus próprios assuntos como parte de uma federação iraquiana. Mas os árabes sunitas, que representam cerca de 20% da população, têm se alienado cada vez mais. O maior partido sunita se retirou do governo interino e quase todos os políticos árabes sunitas importantes agora pedem o adiamento ou o boicote das eleições. Dada a violência nas áreas sunitas, até eleitores que querem participar poderão hesitar em ir às urnas.

Um adiamento - que teria de ser de um período fixo de apenas dois ou três meses - não resolveria todos os problemas de segurança. Mas seria um sinal para os árabes sunitas de que seus temores estão sendo levados em consideração. Isto poderia, por si só, ajudar bastante a reassegurá-los de que a maioria xiita não planejava atropelar seus direitos.

Para que o Iraque comece a deixar para trás sua longa história de hostilidade comunal, os xiitas precisam demonstrar que não tratarão os sunitas como estes os trataram sob Saddam Hussein.