Título: Os desafios da política cambial
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2005, Economia, p. B2

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, anunciou que o governo pode adotar mudanças na política cambial e que vale a pena apostar numa cotação do dólar melhor (para os exportadores) do que a atual. Pode-se questionar se cabe ao ministro do Desenvolvimento anunciar medidas que não dependem da sua pasta, mas do Banco Central (BC), no plano operacional, e do ministro da Fazenda, no plano institucional, criando assim uma expectativa suscetível de gerar decepções. Mas cabe analisar quais medidas poderiam ser adotadas para se obter uma desvalorização do real. Na última divulgação da pesquisa Focus, do BC, o "mercado" previa uma cotação de R$ 2,95 por dólar no final do ano e uma taxa média anual de R$ 2,86, valor bem menor do que os R$ 3 esperados para logo.

E por que o real se tem valorizado ante o dólar?

Não há dúvida de que a origem principal disso é a desvalorização da moeda norte-americana em todo o mundo, conseqüência dos déficits fiscal e das transações correntes dos EUA. A correção exigiria que Washington enfrentasse com maior determinação e força seus déficits e que os bancos centrais dos países industrializados interviessem mais fortemente em favor do dólar.

Mas a melhora da situação cambial do Brasil também explica a valorização da moeda nacional. Um aumento das importações poderia afetar esse quadro, especialmente se acompanhado de uma redução das exportações. Cumpre notar, todavia, que a alta permanente da taxa de juros, que acompanha a valorização cambial, contribui para acentuá-la. Existe ainda a dúvida sobre o interesse do BC de usar a taxa cambial para conter a inflação, o que explica que as compras desta instituição sejam ainda insuficientes para conter a valorização do real. Essas compras representaram apenas US$ 2 bilhões em dezembro, valor sem grande impacto no aumento das reservas em moeda estrangeira.

O ministro Furlan deixou de prever um aumento do prazo que terão os exportadores para repatriar as suas receitas em divisas, o que reduziria a oferta de dólares no mercado interno e contribuiria para a sua valorização. O governo, por sua vez, ao que se sabe, estuda uma unificação do mercado cambial que poderia ter um pequeno efeito sobre as cotações.

Na realidade, só com maiores compras por parte do BC e uma redução da taxa de juros básica se poderia chegar a um câmbio mais atraente para os exportadores e a um freio às importações.