Título: Exportador está mais cauteloso
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2005, Economia, p. B3

As expectativas de negócios da indústria para este trimestre e para os próximos seis meses são favoráveis, mas os empresários estão com um pé atrás quanto ao comportamento das exportações, revela a prévia da 154.ª Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com a pesquisa, 23% das companhias apostam na queda da demanda externa no 1.º trimestre de 2005 na comparação com o trimestre anterior, e 21% esperam alta. O saldo negativo de 2 pontos porcentuais entre as empresas que acreditam no aumento e na diminuição é o pior resultado para o período desde o 1.º trimestre de 2002, quando essa diferença era negativa em 3 pontos. No 1.º trimestre de 2004, o saldo entre as empresas que apostavam na alta das exportações e as que acreditavam na queda foi de apenas 1 ponto porcentual positivo.

"A perspectiva de demanda externa menos favorável pode estar relacionada com o real valorizado", afirma o coordenador do Núcleo de Bancos de Dados Especiais da FGV, Aloisio Campelo Jr.. O economista observa que esse resultado pode ter sido influenciado pelos prognósticos de um crescimento menor da economia mundial para 2005.

A prévia da sondagem da FGV é uma pesquisa qualitativa com empresários de 501 indústrias que, juntas, faturaram R$ 140 bilhões por ano e empregam quase 500 mil pessoas. Os exportadores respondem por 26,6% da receita. As informações foram coletadas entre a última semana de dezembro e a primeira deste mês.

Com relação à demanda interna, a situação é inversa à das exportações. Segundo a enquete, 28% das companhias acreditam que ela vai aumentar este trimestre ante o anterior, e 32% apostam na diminuição. A diferença negativa de 4 pontos porcentuais é o melhor resultado para o período desde o 1.º trimestre de 2002.

Quanto à demanda total para este trimestre, que reúne as vendas domésticas e exportações, 26% das companhias prevêem aumento em relação ao trimestre anterior, e 30%, redução. A diferença de 4 pontos porcentuais negativos é mais favorável do que o saldo de 6 pontos negativos de janeiro de 2004 e o melhor resultado para o trimestre desde janeiro de 2002.

Campelo ressalta que o ritmo de produção da indústria previsto para este trimestre mostra um certo arrefecimento. A sondagem mostra que 32% apostam na diminuição da produção e 25% no aumento, com saldo de 7 pontos porcentuais negativos. Esse resultado é menor do que o obtido no 1.º trimestre de 2004, quando 39% previam alta e 30%, queda. No entanto, é melhor do que o mesmo período de 2003. "Há poucos resultado ruins na pesquisa, e esse é um deles. Pode ter a ver com as exportações mais fracas."

Apesar disso, a expectativa do emprego é favorável, a melhor para um 1.º trimestre desde 1997 - 13% das empresas vão contratar e 12% planejam demitir neste trimestre. No caso dos preços, as empresas reduziram o ímpeto de reajuste: 35% delas querem aumentar neste trimestre, ante 45% em janeiro de 2004. Campelo diz que isso pode ser efeito do câmbio e do recuo das commodities. A situação dos negócios para 6 meses continua firme: 55% das companhias prevêem melhora.