Título: Brasil perde mais espaço nos EUA
Autor: Alberto Tamer
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2005, Economia, p. B4

"As exportações brasileiras cresceram de forma excepcional em 2004, mas as vendas continuaram perdendo espaço no mercado americano. No fundo, foram bastante positivas, pouco mais de US$ 20 bilhões, 20% acima de 2004, contra um incremento de 9% em 2003 e 8% em 2002, mas há um fato que precisa ser registrado: o Brasil perdeu espaço no mercado americano para países asiáticos, sobretudo China e Coréia do Sul." Quem chega a estas conclusões é nada menos que o ex-embaixador do Brasil nos EUA e na Grã-Bretanha Rubens Barbosa, profundo conhecedor dos mercados mundiais, hoje dirigindo a empresa de consultoria Rubens Barbosa e Associados (rubens@rbarbosaconsult.com.br). Esta a razão pela qual a coluna foi ouvi-lo, procurando compreender por que as exportações brasileiras não acompanharam o crescimento de 4% do seu segundo maior parceiro comercial, perdendo para a União Européia, estagnada em 1,8%.

CONCORRÊNCIA ASIÁTICA

"Apesar de o Brasil não competir diretamente com a China e a Coréia do Sul em boa parte de sua pauta de exportações, alguns dos produtos que figuram na lista das principais exportações brasileiras para os EUA recuaram expressivamente enquanto as vendas dos asiáticos cresceram. É o caso dos telefones celulares, cujas exportações brasileiras caíram 70% entre 2003 e 2004 enquanto que as exportações chinesas cresceram quase 95%", informa ele.

Mas não é só aí. "O setor automotivo também perdeu espaço nos EUA. Nossas exportações recuaram em cerca de 55% enquanto as exportações coreanas avançaram em 30%. As vendas brasileiras de combustíveis caíram em 30%."

As exportações do Brasil para os EUA concentram-se em cerca de 75% em produtos manufaturados. "Mas se descontarmos a distorção ocorrida em 2004 pelo enorme crescimento das vendas da Embraer no país, o crescimento das exportações brasileiras para os EUA foi ainda menor."

EUROPA AGORA LIDERA

O intercâmbio comercial com os EUA vem caindo nos últimos anos. Os EUA já perderam há alguns anos o lugar de principal parceiro comercial do Brasil para a União Européia. Em 2004, apesar do diferencial de crescimento econômico, os europeus alargaram sua vantagem, registrando aumento de 30% em suas compras de produtos brasileiros, enquanto os norte-americanos compraram apenas 20% a mais do que em 2003.

Nos últimos cinco anos, o Brasil caiu de 11.º para 15.º parceiro comercial dos EUA. "Nossa perda nos EUA está relacionada, em parte, às flutuações cambiais observadas em 2004, sobretudo no segundo semestre. Apesar da desvalorização do dólar frente a praticamente todas as moedas do mundo, sua cotação em reais sofreu desvalorização excessiva. Porém não podemos culpar apenas isso. As barreiras protecionistas externas impedem o aumento de nossas vendas em setores em que o Brasil é competitivo, como aço, carne, frango e camarões", responde ele. Mas ressalta: "Este fator não é o mais importante. Há o chamado custo Brasil. Além disso, inexiste uma política clara e bem traçada de exportações para o grande mercado norte-americano. Falta conhecimento específico e agressividade do setor privado para identificar nichos de mercado a serem explorados, agências que podem ser acionadas para auxiliar no processo de exportação e estratégias de promoção comercial objetivas."

Tendo em vista tratar-se do maior mercado do mundo, do mais aberto e do mais dinâmico, os EUA mereceriam maior atenção dos formuladores da política comercial brasileira e dos empresários. Foram organizadas muitas missões comerciais para os mercados não tradicionais para incrementar o comércio Sul-Sul, o que não deixa de ser positivo.

Mas, pergunta ele, quantas para a Califórnia, hoje o quarto PIB do mundo, atrás apenas dos EUA, do Japão e da Alemanha? "Quem conhece e aproveita o fato de que cerca de 68% das importações dos EUA já estão isentas de tarifas de importação?" E, aqui, um número que impressiona:

"Explorando isso é que as exportações da China saltaram de US$ 3,5 bilhões em 1985 para US$ 142 bilhões em 2003!"

Isso não nos impede, entretanto, de vislumbrar saídas para as limitações estruturais das vendas brasileiras nos EUA.

Dificilmente, o Brasil repetirá a performance exportadora de 2004. Não só pela ativação da economia interna, pela desaceleração da economia mundial, inclusive a dos EUA e pela questão cambial. O comportamento da moeda norte-americana será fator importante para as exportações brasileiras em 2005.

É importante para o Brasil aumentar sua competitividade, livrando-nos da dependência de um câmbio favorável, fator este exógeno e volátil. Isso seria conseguido com ações como redução da carga tributária sobre a produção, do custo de financiamentos, de entraves burocráticos e dos sérios gargalos no setor de infra-estrutura. Estas questões cabem ao governo, mas iniciativas privadas para identificar oportunidades de negócios no exterior, em especial nos EUA, podem dar ao país uma base mais sólida para apoiar suas exportações.

ALCA, SIM

"As negociações da Alca devem ser utilizadas para reduzir os subsídios no mercado norte-americano e as restrições tarifárias e não tarifárias para aumentar o acesso de produtos brasileiros aos EUA. Considerando as dificuldades para conseguir essa liberalização comercial nos próximos dez anos, em conformidade com as negociações realizadas até aqui, as exportações brasileiras para os EUA nesse período vão seguir crescendo com Alca ou sem Alca pelo dinamismo das duas economias e dos setores privados dos dois países", conclui Rubens Barbosa.