Título: Área cultural pede executivos
Autor: Marina Faleiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2005, Economia, p. B16

Lidar com cultura não é mais um privilégio de artistas e curadores. Hoje, a profissionalização na gestão de museus e institutos culturais tem permitido a entrada de profissionais das mais variadas áreas nesse mercado, muitos dos quais lidam com questões comuns a qualquer empresa, como captação de recursos, administração estratégica e liderança. "Algumas instituições já têm um nível de diretoria elevadíssimo, com pessoas que poderiam estar atuando muito bem, por exemplo, num banco", diz Yacoff Sarkovas, presidente da Articultura, consultoria especializada em patrocínio empresarial.

As contratações no setor também estão mais freqüentes, segundo Denys Monteiro, vice-presidente e sócio da Fesa, empresa de recrutamento de executivos. "Muitas empresas têm investido milhões na área cultural e impulsionado o setor. Elas querem associar sua imagem a este tipo de eventos e esperam um retorno não só para a sociedade, mas também para seus negócios."

Segundo Monteiro, o gestor cultural tem os deveres de um administrador de uma empresa. "Pode não haver fins lucrativos, mas existem orçamentos, propósitos e uma série de fatores financeiros que podem determinar a continuidade ou não de um projeto", diz.

ATUAÇÃO

A prova de que a gestão do setor cultural já se assemelha à das empresas é que muitos profissionais do setor privado têm aplicado sua experiência na área. Ronaldo Bianchi é um exemplo. No início de sua carreira, ele ajudou na estruturação da Fundação Paulista para o Desenvolvimento da Administração Pública (Fundap), mas depois passou 13 anos no setor de metalurgia. Em 1997, foi convidado para gerenciar o Memorial da América Latina.

Dali, partiu para o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), onde ocupa hoje o cargo de superintendente. Em paralelo, o gestor também atua no Itaú Cultural, como vice-presidente executivo. Lá, sua função principal é articular a imagem da instituição com o público, já que os recursos são garantidos pelo banco.

Na opinião de Antonio Franceschi, que foi diretor de diversas áreas no Unibanco e atualmente é superintendente executivo do Instituto Moreira Salles (IMS), sua experiência no setor privado enriquece sua atuação com a cultura. "Fico atento à gestão do instituto enquanto empresa, ao mesmo tempo em que desenvolvo projetos culturais. É preciso ter um perfil interdisciplinar para conciliar tudo", ensina. Franceschi, além de administrar os acervos, os quatro centros culturais e três galerias do IMS, precisa cuidar das quarenta salas de cinema que fazem parte do Unibanco Arteplex.

Para ele, seu papel continua sendo o de um executivo, mas agora coloca muito mais a mão na massa. "Me envolvo, escrevo nos catálogos, participo da seleção de obras. Mas é um trabalho de direção como em qualquer empresa, no que diz respeito à gestão financeira, liderando pessoas e acompanhando projetos."

Outro que migrou da área bancária, depois de 31 anos, foi Flávio Bartalotti, diretor Administrativo e Financeiro da Bienal São Paulo. "Havia a necessidade, na fundação, de se ter uma pessoa que pudesse fazer a gestão financeira e que agregasse uma visão mais empresarial, não só focado no ambiente de cultura", diz. Segundo ele, a grande diferença da atuação no setor cultural é que todos os recursos têm de ser arrecadados antes dos projetos. "Nas empresas, o retorno já vem depois, com a venda do produto."

Mas existem aqueles que fizeram carreira no setor, como Carlos Wendel Magalhães, diretor executivo da Cinemateca, instituição federal com o objetivo de difundir a produção audiovisual brasileira. Ele está envolvido com arte desde 1984, e acredita que o fato de as instituições não terem fins lucrativos não significa que não existe perspectiva para os profissionais. "A eficácia é exatamente igual à da iniciativa privada, e só porque é público não quer dizer que não procuramos sistemas modernos de administração."