Título: Fenômeno 'Saltimbancos' une o lúdico e o político
Autor: Lauro Lisboa Garcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2005, Caderno 2, p. D1

Desde a estréia do musical infantil Os Saltimbancos, em 1977, com Marieta Severo, Grande Otelo, Miúcha e Antonio Pedro , há sempre uma montagem da peça em cartaz em alguma cidade brasileira. A encenação da Cia. 4 na Trilha, que vem ganhando público e prêmios desde 2003, volta à cena sábado no auditório do Sesc Pinheiros, como parte do evento Chico Buarque - O Tempo e o Artista. São quatro bichos unidos por um ideal numa história de teor político e canções inesquecíveis. Adaptado por Chico Buarque, Os Saltimbancos é um fenômeno do teatro infantil, que arrebata adultos e crianças sem distinção. Em 2000 Gabriel Vilela dirigiu outra montagem memorável. Inspirada no conto Os Músicos de Bremen, dos irmãos Grimm, a peça ganhou o título I Musicanti na versão do italiano Sérgio Bardotti, mas não emplacou na Itália. Luiz Enríquez compôs as canções, que Chico traduziu e adaptou com sucesso. O disco, com o MPB-4, Nara Leão e Miúcha, é um clássico que atravessa gerações sem envelhecer.

O texto já é bem conhecido e virou até filme com Os Trapalhões. Cansados de ser explorados e maltratados por seus patrões, quatro bichos (jumento, galinha, cachorro e gata) decidem fugir do campo e ir para a cidade formar um grupo musical. Para isso, no entanto, precisam se livrar dos donos e unem forças para derrotá-los e conquistar a liberdade.

Primeiro trabalho do grupo paulista Cia. 4 na Trilha, a peça é apresentada com música ao vivo, mas o único instrumento convencional é o violão. O restante é adaptado de sucata. "São latinhas, cornetinhas de plástico. Os figurinos também foram criados com objetos do cotidiano da criança", diz a atriz Denise Cecchi, que interpreta a gata e divide a direção com Paulo Celestino (jumento), Linaldo Telles (cachorro) e Marília De Santis (galinha). Um dos trunfos da peça é a atualidade do texto, que leva a refletir sobre as desigualdades sociais. Daí o sucesso entre diversas faixas etárias. "A resposta é sempre positiva, principalmente por parte dos pais", diz Denise. "Mas ao mesmo tempo que tivemos a preocupação de evitar um espetáculo infantilóide, procuramos manter o aspecto lúdico."