Título: Lula cobra explicações de Amir Lando
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2005, Nacional, p. A6

As reclamações públicas do ministro da Previdência Social, Amir Lando, contra o processo de desgaste que está sofrendo abriram ontem uma crise política dentro do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não escondeu seu aborrecimento pelas queixas do ministro do PMDB, que afirmou ao Estado haver grupos no governo "empenhados em derrubá-lo do cargo por causa de sua batalha contra as fraudes na Dataprev". No fim da tarde, Lula cobrou explicações pessoalmente de Lando, em reunião no Palácio do Planalto, com a participação do ministro da Casa Civil, José Dirceu. Por conta do impacto dessas queixas públicas, até representantes da cúpula governista do PMDB já dão como certa a demissão de Amir Lando na reforma ministerial que Lula deverá fazer até o fim de janeiro.

Segundo um ministro com trânsito no gabinete presidencial, Lula está aborrecido com Lando por ele ter acusado o Planalto de promover seu desgaste. Pior, acrescenta o ministro, é que Lando ainda teria afirmado em conversas públicas que a "fritura vinha do Japão". A interpretação do Planalto foi a de que o senador estava se referindo ao ministro da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken (PT). Com isto, o interlocutor de Lula acredita que Lando comprou uma briga com quem não devia e sairá derrotado. Em resumo, abriu um flanco para ser derrubado pelo governo.

Apesar do clima ruim, a aposta geral é de que o presidente não vai precipitar nos próximos dias a demissão de Lando. Como a substituição dele é uma questão partidária e envolve todo um xadrez político, os líderes do PMDB avaliam que o ideal é que seja tratada no contexto mais amplo da reforma. Mas com a fala mais forte, Lando perdeu boa parte do apoio que tinha dentro de seu partido para se manter no cargo.

Embora o próprio presidente tenha dito aos senadores do PMDB que o partido merecia ter sua participação no governo ampliada, com mais um ministério ou trocando as pastas que comanda (Previdência e Comunicações) por outras mais fortes, a direção partidária vê com reservas a possibilidade de troca.

O objeto de desejo dos peemedebistas sempre foi o Ministério das Cidades. Mas a cúpula governista agora revê suas pretensões, convencida de que o ministro Olívio Dutra (PT) certamente deixará sua equipe, repleta de petistas, de herança para o sucessor.

Neste caso, os peemedebistas avaliam que o problema é que o novo ministro terá pouco tempo para dominar a máquina e produzir resultados.

Afinal, raciocinam, até que consigam "despejar" os petistas e pôr o ministério para funcionar com técnicos de sua confiança e a seu estilo, 2005 terá acabado. Aí restarão apenas seis meses até que os políticos sejam forçados a deixar o governo para disputar as eleições de 2006.

O entendimento geral é de que meio ano é muito pouco para um partido imprimir sua marca em um ministério e colher dividendos eleitorais de seu trabalho. Por isto, um dirigente peemedebista que participa das negociações adianta que, se o presidente Lula der ao partido e ao ministro das Comunicações, Eunício de Oliveira (PMDB-CE), a possibilidade de escolher entre uma nova pasta e a atual, a tendência é a de ficar tudo como está.

Mas não por falta de candidatos a ministro. Só na bancada do Senado, pelo menos três voluntários se apresentam de público e negociam nos bastidores: Romero Jucá (RR), Maguito Vilela (GO) e Hélio Costa (MG).

O conjunto das mudanças inclui, ainda, um acerto entre o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e os líderes do PMDB, Renan Calheiros (AL), e do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP). Todos trabalham para pôr a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) no ministério. Ela já ingressaria no governo sem partido e, mais tarde, anunciaria sua filiação ao PMDB de seu pai.