Título: Para Delfim, Furlan fez advertência sensata
Autor: Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2005, Economia, p. B3

O deputado Delfim Netto (PP-SP) definiu a entrevista do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, publicada ontem pelo Estado como "uma advertência sensata" ao País. Para Delfim, o ministro está correto ao manifestar preocupação com a excessiva valorização do real nas últimas semanas. "Boa parte das exportações industriais não oferece taxa de retorno adequado com o dólar a R$ 2,70", afirmou. Segundo ele, esta não é uma opinião, mas um fato que pode ser aferido. A política econômica do atual governo caiu numa "armadilha", segundo o deputado, que já foi ministro da Fazenda e do Planejamento. "Eles (os diretores do Banco Central) continuam namorando a idéia de que se pode ter uma taxa de inflação muito baixa", explicou. "Mas esquecem que, para se chegar aos 5,1% projetados para este ano, será preciso derrubar o nível de atividade para valer."

Em outras palavras: o objetivo de 5,1% de inflação é incompatível, segundo Delfim, com um crescimento econômico de 5% ou mais neste ano, como previu recentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

REALISMO

A "armadilha" decorre, na visão do deputado, do fato de que, para alcançar a meta de 5,1%, o Banco Central terá que elevar os juros, o que reduzirá o nível de atividade econômica. Com menor crescimento, a relação dívida/PIB aumentará e, conseqüentemente, o risco Brasil vai piorar. Com os juros em alta, a valorização do real vai continuar e poderá afetar negativamente as exportações, o que por sua vez prejudicará ainda mais as expectativas dos agentes.

Delfim defendeu o sistema de metas de inflação adotado pelo Brasil, mas disse que ele precisa "ser mais realista", com metas adequadas. "Uma parte considerável da inflação de 2005 já foi dada pelo IGP do ano passado, pois esse indexador escandaloso será utilizado para reajustar os contratos de energia e telefonia", observou. "Os preços livres teriam que subir muito pouco para se chegar ao objetivo de 5,1%", acrescentou.