Título: Governo começa seu teste decisivo hoje
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2005, Economia, p. B6

O governo do presidente Néstor Kirchner começa hoje o teste mais decisivo de seu tumultuado currículo financeiro, com o início da reestruturação da dívida pública com os credores privados. O teste será prolongado e promete provocar altos e baixos nas próximas semanas, já que o período para troca dos 152 títulos velhos (em estado de calote) pelos três bônus novos (reestruturados, com significativa redução de seu valor original, de mais de 60%), terminará em 25 de fevereiro, podendo ser prorrogado até 4 de março. Os analistas afirmam que nos primeiros dias os mercados registrarão uma afluência significativa de fundos de pensões, companhias de seguros e bancos argentinos que trocarão os títulos velhos pelos novos. Estes três setores, que juntos possuem quase um terço do total dos bônus a serem reestruturados, já fecharam um acordo com o governo Kirchner.

Por esse motivo, os analistas consideram que nas semanas seguintes a operação terá pouco movimento, com uma preocupante calmaria. Eles acreditam que a maioria dos credores vai analisar o cenário e esperar até as últimas semanas para aderir.

A partir de hoje, os credores poderão solicitar a troca de seus títulos nas principais praças financeiras do mundo. O maior número de credores está na própria Argentina (38,4%), seguida por Itália (15,6%), Suíça (10,3%) e EUA (9,1%). Do total, 43,5% são investidores individuais e 56,5% são institucionais.

ELEIÇÃO

No cenário interno, o governo Kirchner tem um amplo respaldo dos principais setores da economia e finanças do país. Poucas horas antes do início da operação, o presidente recebeu apoio da União Industrial Argentina (UIA), que declarou que a proposta permite compatibilizar o pagamento da dívida com o crescimento do país. Para a Câmara de Comércio, a troca de títulos possibilitará ao país voltar a integrar-se na comunidade internacional. Kirchner também obteve respaldo da Associação de Bancos da Argentina (ABA) e da Associação de Bancos Públicos e Privados da República Argentina (Abappra).

Um eventual sucesso do governo na operação de reestruturação da dívida proporcionará amplos dividendos políticos para o presidente Kirchner. Segundo os analistas, se a troca de títulos for bem-sucedida, ele terá seu prestígio reforçado para enfrentar sem problemas as eleições parlamentares de outubro, que vão definir o mapa do poder no Congresso pelos próximos dois anos.