Título: Credores rejeitam oferta argentina
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2005, Economia, p. B6

O Comitê Global de Credores da Argentina (GCAB, sigla em inglês) prometeu deflagrar uma campanha mundial contra o governo do presidente Néstor Kirchner. O Comitê anunciou que "não apóia a tão esperada oferta da dívida" e não pode aconselhar a adesão de seus membros à troca de títulos. O GCAB alega que representa donos de títulos argentinos nos Estados Unidos, Alemanha, Japão e Itália, que possuem bônus em estado de calote no valor original de US$ 39 bilhões, o equivalente a 45% do total da dívida reestruturada. Segundo Hans Humes, uma das lideranças do Comitê, "a Argentina não cumpriu seus acordos". Ele afirma que a oferta apresentada na quarta-feira pelo Ministro da Economia, Roberto Lavagna, "não é o resultado de negociações de boa fé, tal como o Fundo Monetário Internacional (FMI) havia pedido".

O Comitê informou que começará uma turnê mundial para mobilizar os credores da Alemanha, Itália, Japão, EUA, Suíça e Grã-Bretanha. A idéia é "cercar" os emissários de Lavagna aos principais centros financeiros com a missão de seduzir os credores mais reticentes. Representantes do GCAB serão enviados a Paris, Londres, Zurique, Frankfurt, Roma, Los Angeles, Boston e Nova York para mobilizar os credores.

Humes sustenta que a oferta de troca de dívida da Argentina não reflete a melhora da capacidade de pagamento que o país teria por causa da recuperação de sua economia. Em Washington, o porta-voz do FMI, Thomas Dawson, deixou claro que o organismo somente se pronunciará após a conclusão da operação. "Nossa visão é que concluir uma reestruturação de dívida ampla e sustentável é essencial para as perspectivas econômicas da Argentina."

"Fedorenta" foi um dos adjetivos mais sutis emitidos pelas lideranças das associações de credores italianos sobre a proposta de Lavagna. Os setores mais irritados entre os 400 mil credores italianos pedem um boicote aos produtos argentinos. "Um roubo de dimensões épicas" foi a definição de Nicola Stock, presidente da Task Force Argentina, grupo de credores apoiado pela Associação de Bancos Italianos. Para Stock, a proposta é "inaceitável". "Os argentinos vão devolver quantias ínfimas, e somente daqui a 35 anos. A proposta fede."

Ontem, pela primeira vez o governo Berlusconi criticou oficialmente a troca de dívida. O ministro da Economia da Itália, Domenico Siniscalco, disse à Comissão de Finanças da Câmara de Deputados que "é evidente que não houve uma negociação de boa fé com os correntistas".

Na capital argentina, o clima entre as lideranças das associações de credores também é de profunda irritação. Os credores prometem uma onda de processos na Justiça contra os autores da proposta de troca da dívida. "É uma fanfarronice a mais", afirma Horacio Vázquez, um dos líderes da Associação de Correntistas Prejudicados pela Pesificação e o Default (ADAPD). "A proposta é tão vil que não tem sentido."