Título: Na América Latina, mais divisão
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2005, Nacional, p. A5

No contexto da afirmação das novas potências asiáticas, o estudo da CIA afirma que "a possível ascensão econômica do Brasil, da África do Sul, da Indonésia e mesmo da Rússia poderá reforçar o crescente papel da China e da Índia, ainda que, por si só, esses países terão impactos geopolíticos mais limitados". Na América Latina, que ocupa espaço reduzido no estudo, os especialistas consultados pelos analistas da CIA sugeriram que as mudanças globais nos próximos 15 anos poderão aprofundar divisões internas na região.

Mas apresentam uma visão positiva sobre as perspectivas do Brasil e do Chile. "Enquanto o Cone Sul, especialmente o Brasil e o Chile, busca novos parceiros na Ásia e na Europa, a América Central , o México e os países andinos podem ficar para trás e continuar dependentes dos EUA e do Canadá como parceiros comerciais preferenciais e provedores de ajuda."

ESTADO ESSENCIAL

"As conclusões e inserções sobre o Brasil são essencialmente otimistas, construtivas e de realce", disse ao Estado Thomas Guedes da Costa, professor da National Defense University, em Washington.

De fato, o estudo resume num parágrafo uma visão favorável e esperançosa sobre o País. "Especialistas reconhecem que o Brasil é um Estado essencial, com uma democracia vibrante, uma economia diversificada, uma população empreendedora e instituições econômicas sólidas."

A análise da CIA conclui que "o sucesso ou fracasso do Brasil em conciliar medidas em favor do crescimento econômico com uma ambiciosa agenda social que reduza a pobreza e a desigualdade de renda terá um profundo impacto no desempenho econômico e na governança da região nos próximos 15 anos".

O trabalho sugere, também, as razões pelas quais os arroubos retóricos, o viés antiamericano de setores da administração Lula e os acessos terceiro-mundistas do Itamaraty não preocupam Washington. "A busca de investimentos estrangeiros diretos e de maior estabilidade regional e de uma integração mais eqüitativa - inclusive no comércio e na infra-estrutura econômica - continuarão a ser axiomas da política externa brasileira", afirma a CIA. "O Brasil é um parceiro natural dos Estados Unidos, da Europa e também dos poderes em ascensão - China e Índia - e tem o potencial de aumentar sua influência como um exportador líquido de petróleo."

Estranhamente, o trabalho não faz referência ao crescente papel global do Brasil como produtor e exportador de alimentos.