Título: Novo acordo com PMDB vai incluir presidência de estatal
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2005, Nacional, p. A6

O novo acerto do PMDB com o governo vai custar, no máximo, a presidência de uma estatal para contemplar a bancada do partido na Câmara e fortalecer a ala afinada com o governo. É o que a ala governista do partido vai pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião que têm hoje. Além da estatal, os peemedebistas querem manter os dois ministérios que já ocupam (Comunicações e Previdência Social) e garantir um terceiro para a senadora Roseana, filha do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que deve se filiar ao partido.

O presidente vai ouvir que o PMDB tem pressa de fechar o acordo com o governo, mas não de efetivá-lo. Segundo um dos peemedebistas que participará da reunião, a idéia é definir a "sinceridade das intenções e ajustar o timing das mudanças". Tudo de acordo com a conveniência do próprio governo, que enfrenta resistências para eleger o petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) presidente da Câmara.

Depois do racha da convenção nacional de dezembro, em que a ala de oposição ao Planalto obteve uma vitória que está sendo questionada na Justiça, o grupo governista quer ter segurança de que o Planalto está disposto a fortalecer o grupo. Eles sabem que um partido dividido vale menos nas negociações, mas vão argumentar que precisam ser prestigiados internamente, até para conseguir virar o placar desfavorável a eles (e ao governo) na convenção nacional do partido e obter o apoio da maioria dos convencionais.

Como o racha é maior na Câmara, onde o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), se destaca na liderança dos rebeldes, a oferta do comando de uma estatal à bancada de deputados pode pacificar a bancada de deputados do partido e se mostrar útil ao governo.

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Estão escalados para a conversa com Lula os ministros Amir Lando, da Previdência, e Eunício Oliveira, das Comunicações, o senador Sarney e os líderes na Câmara, José Borba (PR), e no Senado, Renan Calheiros (AL). Com o apoio de Sarney para sucedê-lo no comando do Congresso, Renan está à frente da articulação para dar um ministério à senadora Roseana (PFL).

A equação do ingresso de Roseana no governo não é simples. Sondada para o Planejamento, ela resistiu à idéia, temendo ser tutelada pelos ministros petistas da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu, e acabar sem autonomia, cumprindo um papel de "rainha da Inglaterra" no ministério. Seu sonho de consumo, para fazer política no Maranhão e enfrentar a oposição do governador José Reinaldo Tavares (PTB), é o ministério do Turismo, que Lula não pretende tirar do ministro Walfrido Mares Guia (PTB).

O PMDB, que espera filiar Roseana nos próximos meses, gostaria de comandar o ministério das Cidades, mas já arquivou este sonho por várias razões. Além da resistência do PT, que quer manter o ministro Olívio Dutra, o Planalto avalia bem o trabalho que vem sendo feito na área, de modo a conter os movimentos sociais urbanos, como o dos sem-teto, que não têm dado trabalho ao governo. Os peemedebistas também temem herdar uma estrutura infestada de petistas.

O PMDB quer manter a Previdência, mesmo sabendo da insatisfação geral com o desempenho do ministro Amir Lando. O cotado para sucedê-lo é o senador Romero Jucá (RR), que ganhou a simpatia do PT e do Planalto como relator do Orçamento da União de 2005. Com um ou outro o PMDB almeja ganhar a Secretaria de Previdência Complementar, que cuida dos fundos de pensão e tem à frente Adacir Reis, indicado pelo ministro Luiz Gushiken, da Comunicação de Governo.

Entre os governistas, a aposta é que Eunício Oliveira continuará à frente das Comunicações. Ele já se recompôs com a bancada da Câmara e tem apoio de Lula. Além disso, a ordem no PMDB do Senado é "não fazer marola", para não complicar a eleição do líder Renan Calheiros.