Título: Bush: 'Reeleição validou invasão'
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2005, Internacional, p. A11

Confrontado com a desaprovação crescente dos americanos à invasão do Iraque e suas conseqüências, o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou em entrevista ao Washington Post que sua política para o Iraque foi ratificada pelos resultados das eleições de 2 de novembro, que o confirmaram na Casa Branca por mais quatro anos. Por isso, Bush disse que não vê necessidade de pedir contas a ninguém em sua administração pelos equívocos e erros de cálculo cometido nos preparativos da intervenção que derrubou o regime de Saddam Hussein e na condução da guerra - que até agora produziu resultados contrários aos prometidos aos iraquianos, complicou a campanha contra o terrorismo, expôs os limites do poderio militar americano e comprometeu seriamente a credibilidade internacional dos EUA. "Tivemos um momento para julgar responsabilidades (pela decisão de ir à guerra): as eleições de 2004", disse o presidente, que nesta quinta-feira iniciará seu segundo mandato sob medidas de segurança nunca vistas em Washington e com uma festa que é motivo de intensa controvérsia - seja pelo custo recorde de US$ 40 milhões, seja pelo tom triunfante, que muitos consideram pouco apropriado para um país metido numa guerra que vai mal e tem remotas chances de ir bem.

"O povo americano ouviu diferentes avaliações feitas sobre a guerra que está acontecendo no Iraque, examinou os dois candidatos e escolheu a mim", disse Bush. Ele admitiu que os EUA perderam prestígio internacional por causa da invasão do Iraque e disse que instruiu a secretário de Estado designada, Condoleezza Rice, a lançar uma campanha para "explicar os motivos e intenções" do governo.

Bush mostrou-se mais comedido do que em declarações passadas sobre as chances de sucesso no Iraque e pediu paciência aos americanos. "Numa questão complicada como a de remover um ditador do poder e tentar ajudar a implantar uma democracia, algumas vezes o inesperado acontece, para o bem e para o mal", afirmou. "Sou realista sobre quão rapidamente uma sociedade que foi dominada por um tirano pode tornar-se uma democracia... e sou mais paciente do que alguns."

As declarações de Bush são parte de um esforço que o governo iniciou para reduzir as expectativas sobre o significado e o alcance da eleição marcada para o dia 30 no Iraque, para escolher os 275 membros de uma assembléia constituinte. Embora insista que a votação deva ir adiante na data programada - contra o conselho até de destacados líderes iraquianos, que não vêem condições mínimas de segurança para a realização de um pleito representativo -, Washington mudou o critério pelo qual quer ver o evento avaliado. "Não vemos a eleição em si mesma como um ponto fundamental", disse o vice-secretário de Estado, Richard Armitage. "Trata-se do começo de um processo no qual os iraquianos escreverão uma Constituição e, no final no ano, votarão por um governo permanente."

Para Stephen Zunes, professor de ciência política da Universidade de San Francisco, o governo está empenhado agora em controle de danos quanto à votação no Iraque. "Depois que a motivação original (sobre a existência de armas de destruição em massa) desmoronou, eles criaram elevadíssimas expectativas sobre a democratização (do país) para justificar a intervenção", disse Zunes à Associated Press. "Agora que têm nas mãos uma demonstração de democracia que não é especialmente boa, são forçados a reduzir as expectativas." Na entrevista ao Post, Bush evitou comprometer-se com prazos para a redução de tropas americanas no Iraque.