Título: Agricultores buscam mais crédito
Autor: Viviane Mottin
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2005, Economia, p. B10

A alta dos preços de defensivos agrícolas e fertilizantes, entre 15% e 20%, em conjunto com o recuo de 16% da cotação da soja nos últimos 12 meses, e ainda a diferença do dólar no período de aquisição dos implementos agrícolas para a safra 2004/2005 (em torno de R$ 3,20) até o momento da venda (R$ 2,70), formam um cenário sombrio para os agricultores. O mesmo raciocínio vale, portanto, para a indústria química, que terá de reavaliar sua política de crédito, alerta o professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) e vice-coordenador do Grupo Pensa, da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Fava Neves. Na opinião dele, os fabricantes de fertilizantes e defensivos deverão conceder maior prazo para os pagamentos, devido à queda da margem para os agricultores. Dessa forma, a indústria química reduziria seu próprio risco de ver aumentar a inadimplência. Para esse segmento químico, aliás, a queda do dólar favorece a redução de preços em reais. Os princípios ativos da maior parte dos defensivos agrícolas e algumas das principais matérias-primas para fertilizantes, como potássio e nitrogenados, são e continuarão sendo importados pelo País.

A área cultivada para a safra 2005/2006 será pensada apenas por volta do mês de julho, e dependerá do sucesso da venda da safra atual e de outras variáveis internacionais. Fava afirma que não há expectativas de redução da área plantada de soja. Pelo contrário. Segundo o analista de agronegócio, o Brasil deverá ser favorecido pelo recuo dos Estados Unidos no cultivo da soja, em razão do alastramento da ferrugem asiática no país. Os EUA optarão pelo milho, cujo principal produto é o álcool, por sua vez um combustível alternativo. O álcool de amido de milho será cada vez mais necessário, devido às oscilações da cotação do gás natural.

O aumento do preço do barril de petróleo, em 2004, unido ao uso cada vez maior de gás nos Estados Unidos para geração de energia, elevou o preço do milhão de BTU a até US$ 8 no ano passado - uma alta recorde. Além disso, a China entra em cena, podendo voltar a importar grandes quantidades da commodity brasileira, usada como ração para criação de animais de corte. Caso a indústria química queira manter sua margem em alta, poderá contar com outros cultivos tão ou mais promissores do que o de soja. Há commodities agrícolas importantes, como cana-de-açúcar, café e laranja, "com boas perspectivas", assinala o especialista.